Título: CPI focada no MST é perseguição
Autor: Lima, Maria; Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 09/10/2009, O País, p. 11

CORPO A CORPO: GUILHERME CASSEL

O ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, defendeu que os invasores da fazenda paguem os prejuízos, mas disse que fazer uma CPI focada apenas no MST é perseguição a um movimento social legítimo.

Maria Lima

O GLOBO: Agora vai ser difícil impedir a instalação da CPI da Terra?

GUILHERME CASSEL: A aplicação do dinheiro público é sagrada e sobre ela não deve pairar dúvidas.

Mas o Ministério do Desenvolvimento Agrário e o Incra são os órgãos mais investigados da Esplanada, são auditados com lupa por Tribunal de Contas, Controladoria Geral da União, Ministério Público e já passaram por duas CPIs, da Terra e das ONGs. Agora já está ficando demais, está grotesco, a mesma expressão que usei para condenar os atos do MST em São Paulo.

Com o episódio na fazenda da Cutrale é mais difícil impedir a CPI?

CASSEL: Sou contra a criminalização dos movimentos sociais que, mesmo sem personalidade jurídica, se organizam em defesa de seus objetivos.

Se quiserem fazer uma CPI geral da agricultura, incluindo recursos para a CNA, tudo bem. Mas uma CPI focada contra um movimento social, uma cooperativa, uma igreja, isso eu chamo de perseguição.

Não se deve focar um adversário, isso é perigoso, é perseguição.

Mas o MST agora deu os motivos?

CASSEL: Acho que sim, foi uma completa estupidez, fora de hora, fora do tom, um tiro no pé do movimento. Deram munição para os adversários da reforma agrária.

O senhor acha que eles têm de pagar os prejuízos causados pelo vandalismo?

CASSEL: Acho que sim.

Mas o MDA e o Incra não têm poder policial. As pessoas na rua olham para mim e perguntam: ¿Você não vai fazer nada?¿ Mas, meu Deus, eu não tenho nada para fazer. O MST me vê como adversário, porque eu fui rigoroso, cortei recursos que iam para eles, mas a sociedade me vê como um aliado do MST. A Polícia Federal, a polícia estadual, o Ministério Público, o Judiciário têm que identificar essas pessoas e cobrar que paguem os prejuízos.

Não podemos apoiar a impunidade. A lei vale para todo mundo.

O deputado Ronaldo Caiado acha que o senhor não foi rigoroso com o MST...

CASSEL: O Caiado tem uma fixação por mim! Ele insiste na tecla de que o MST é financiado pelo governo. Isso é uma falácia, uma bobagem que não se sustenta. Mas é uma cena política que ele faz. É o papel dele, é ruralista, fundou a UDR, e odeia sem terra. Mas é uma tese falha. O governo não financia os movimentos sociais. A história dos R$ 155 milhões de repasses que ele diz que foram para o MST é de um ridículo atroz. Lá tem recurso até para associações das Ematers.

É uma paranoia dele.