Título: Vacina para todos
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Fonte: Correio Braziliense, 16/05/2009, Mundo, p. 30

Países em desenvolvimento temem que os ricos monopolizem o acesso à imunização, em pesquisa nos laboratórios de farmacêuticas. OMS mantém alerta também contra influenza sazonal

Ao mesmo tempo em que os países que integram a Organização Mundial de Saúde (OMS) constatam a necessidade de começar a fabricar de forma contínua a vacina contra a gripe A, sem deixar de produzir a imunização para a influenza comum, fica evidente a preocupação das nações em desenvolvimento em ter acesso à nova vacina. O receio é que, apesar de contribuir para as pesquisas com amostras coletadas em vítimas infectadas pelo vírus H1N1, esses países tenham de comprar a vacina produzida pelas multinacionais, por preços abusivos. Ontem, a OMS anunciou que o número de casos confirmados subiu para 7.520, espalhados em 34 países. O balanço, no entanto, não considera os dois primeiros casos registrados, nas últimas 24 horas, no Equador e na Malásia.

Na reunião de ontem da OMS, representantes dos países do Sudeste Asiático acusaram as nações desenvolvidas de terem assinado ¿acordos com os fabricantes de vacinas para assegurar-se de que receberão os primeiros carregamentos da vacina pandêmica que saírem das cadeias de produção, deixando em grande risco os países em desenvolvimento¿. De acordo com essas nações, não se tem permitido que a preparação para uma pandemia ¿seja justa, transparente ou equitativa¿. ¿Até agora, a OMS não apoiou nem recomendou que os países com capacidade de produção comecem a fabricar seus próprios antivirais genéricos¿, denunciaram.

Organizações não-governamentais, como a Médicos sem fronteiras (MSF) e a Third World Network, começaram a encampar a causa dos países em desenvolvimento. ¿Há a urgente necessidade de que se estabeleça um sistema global de acesso justo e equitativo às vacinas da gripe e aos tratamentos antivirais¿, destacou a Third World Network. Segundo o grupo, é preciso assegurar, além disso, o acesso à tecnologia para fabricar esses produtos. A estimativa é de que os países ricos concentrem quase 90% da capacidade mundial para produzir vacinas.

A diretora-geral da OMS, Margaret Chan, tentou amenizar o mal-estar e elogiou os países que têm contribuído, disponibilizando amostras do H1N1. ¿É digno de elogio o rápido envio das amostras dos vírus para análise, e para poder fazer a base da vacina¿, disse Chan. A representante da OMS ressaltou, porém, que o cuidado com a nova gripe não pode permitir que se esqueça a influenza comum, que causa sintomas graves em 2 a 3 milhões de pessoas por ano e mata até 500 mil. ¿Estamos nos movendo nessas duas direções, para garantir alguma segurança para a vacina sazonal e ao mesmo tempo dar o pontapé inicial nos primeiros trabalhos científicos sobre a vacina pandêmica¿, declarou. Ela ainda alertou para o perigo da ¿falsa segurança¿ em acreditar ¿que o pior já passou¿.

Nos Estados Unidos, mais duas mortes decorrentes da gripe A (H1N1) foram confirmadas ontem ¿ uma no Arizona e outra no Texas ¿, aumentando o número de vítimas para cinco no país. Em Nova York, mais três escolas estarão com as portas fechadas na segunda-feira por conta do surto de gripe. Duas delas ficam no bairro do Queens, onde três colégios suspenderam as aulas ontem, e a outra no Brooklyn.