Título: Pré-sal quadruplica emissão da Petrobras
Autor: Melo, Liana
Fonte: O Globo, 09/10/2009, Economia, p. 30

Especialistas criticam iniciativas e dizem que ainda há muito a ser feito

RIO e SÃO PAULO. A Petrobras, que acumula os títulos de maior empresa e maior poluidora do país, poderá quadruplicar seu volume de emissões de gases do efeito estufa quando forem colocados na ponta do lápis os impactos da extração de petróleo da camada do pré-sal.

Cálculos preliminares da Fundação Getulio Vargas (FGV), de São Paulo, dão conta que as emissões podem passar de 51 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2e) para 200 milhões de toneladas de CO2e.

A Petrobras afirma que já evitou a emissão de 5 milhões de toneladas de CO2e desde 2007 e que possui metas de reduzir a emissão entre 2,3 milhões e 4,5 milhões de toneladas entre 2009 e 2013.

¿Uma das medidas é a reinjeção desse gás nos próprios reservatórios de petróleo com o objetivo não só de armazenamento, mas também de potencialmente aumentar o rendimento produtivo desses campos.

Outras opções em análise são o armazenamento do dióxido de carbono em reservatórios com aquíferos salinos sob o fundo do mar, a reinjeção em reservatórios de gás exauridos e a sua estocagem em cavernas na camada de sal¿, afirmou a estatal em nota.

`Precisamos criar uma cultura de inventários¿

Essas políticas, contudo, são questionadas por especialistas: ¿ Temos que olhar estas iniciativas com cuidado. A reinjeção é muito questionável, não há garantias que o dióxido de carbono ficará para sempre lá e o custo é muito alto para algo pouco eficiente, pois não se consegue armazenar o CO2 que sai dos escapamentos dos carros, por exemplo ¿ afirmou Roberto Schaeffer, professor da Coppe/ UFRJ, para quem o ideal seria investir em novas pesquisas, descobrindo outras formas de capturar e destinar estes gases.

Este é só um exemplo das polêmicas. Segundo especialistas, sobra retórica e falta atitude no meio empresarial para combater as mudanças climáticas.

Virou prática corrente no mundo dos negócios anunciar programas de reflorestamento, mas poucas são as empresas que, de fato, adotam programas para mitigar suas emissões. Não é à toa que, entre os especialistas, corre a máxima de que o Brasil não incorporou ainda a cultura do diagnóstico.

¿ Os inventários de emissões ainda não foram incorporados à estratégia das empresas, porque elas ainda não internalizaram os riscos e as oportunidades que a mudança do clima oferece ¿ afirma Juarez Campos, um dos coordenadores do programa Empresas pelo Clima, do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas, de São Paulo. ¿ Precisamos criar uma cultura de inventários.

O diretor da Kea Associados, Carlos Delpuppo, concorda com a análise e admite que, até agora, as empresas ¿ainda não têm noção quanto do seu lucro está sendo comprometido por causa do risco carbono¿.

A Kea é uma empresa especializada em consultoria para a mudança do clima.

Executivo: metas só com medidas drásticas

O físico José Goldemberg, do Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE) da USP, defende a necessidade de o setor privado incorporar na cultura empresarial o diagnóstico de inventários de emissões: ¿ As empresas deveriam fazer seus inventários com a mesma transparência e assiduidade com que fazem seus balanços financeiros.

Fábio Feldmann, do fórum estadual de mudanças climáticas e biodiversidade de São Paulo, acredita que a mudança tem de ser cultural: ¿ Meta da redução das emissões não podem ser vistas como punição, mas como oportunidade de negócios.

Para Marcos Vaz, diretor de sustentabilidade da Natura, metas são boas para forçar medidas fortes de redução de emissão de gases. Segundo ele, a Natura, que possui uma agressiva meta de redução de emissão de poluentes em 33% entre 2006 e 2011 (já reduziu 9%), só conseguirá alcançar os objetivos com ¿medidas drásticas¿: ¿ Não basta racionalizar transporte e energias. No nosso caso, estamos mudando nossas matérias primas e mix de produtos.