Título: Tática governista para proteger Dilma
Autor: Pereira, Daniel; Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 22/05/2009, Política, p. 2

Planalto divulga pesquisa encomendada pelo PT, em que a ministra tem 22% das intenções de voto, como um sinal de que a candidatura da ¿mãe do PAC¿ vai bem. O Palácio não pensa na tese de um terceiro mandato.

¿Ela é uma candidata consolidada. Esperávamos que chegasse aos 20% no fim do ano, mas está bem melhor e com condições de crescer mais¿ Cândido Vaccarezza (SP), líder petista na Câmara Por determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, petistas e ministros deflagraram uma campanha para reforçar a pré-candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, alvo de um ¿ataque especulativo¿, segundo governistas, desde a divulgação de seu tratamento contra o câncer. A estratégia começou a ser executada ontem em duas frentes. Numa delas, foi divulgado o resultado parcial de uma pesquisa encomendada pelo PT ao instituto Vox Populi que apontaria a ¿mãe do PAC¿ com 22% das intenções de voto para a Presidência. Na outra, auxiliares de Lula saíram a campo a fim de rechaçar a tese do terceiro mandato, que serviria apenas para enfraquecer a ministra.

¿Ela é uma candidata consolidada. Esperávamos que chegasse aos 20% no fim do ano, mas está bem melhor e com condições de crescer mais¿, disse o líder petista na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP). Além de divulgar o novo percentual conquistado por Dilma, que a colocaria na segunda posição no páreo presidencial, atrás do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), com 40%, governistas foram orientados a lembrar que a ministra é pouco conhecida pela população. Ou seja, ainda teria muito a crescer, embalada pela baixa rejeição e a ajuda de Lula. ¿Se não usarmos essa informação, e bem usada, haverá um clima de debandada geral¿, afirmou um cacique petista que analisou os dados do levantamento com a secretária executiva da Casa Civil, Erenice Guerra.

Desde o anúncio da doença de Dilma, Lula capta sinais de afastamento das siglas aliadas. Cobiçado como parceiro preferencial para 2010, o PMDB, por exemplo, intensificou as conversas com o PSDB. Tem tratado ainda, informalmente, da possibilidade de apoiar uma emenda em favor da re-reeleição. Além disso, voltou a cogitar o lançamento de um concorrente próprio à sucessão de Lula. Esse ponto foi discutido pelos presidentes da Câmara, Michel Temer (SP), e do Senado, José Sarney (AP), na segunda-feira passada. ¿Eu advogo a tese da candidatura própria. Temos que deixar de ser a eterna noiva¿, declarou o deputado Moisés Avelino (PMDB-TO).

Indefinição Avelino foi um dos participantes de jantar na casa do líder peemedebista na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), na quarta-feira, quando integrantes da legenda discutiram táticas para 2010. Na ocasião, houve uma espécie de consenso sobre a indefinição do cenário eleitoral. ¿O quadro está absolutamente confuso¿, concordou o deputado Rodrigo Rollemberg (DF). Líder do PSB na Câmara, Rollemberg mostrou descontentamento com a estratégia petista. Sobretudo porque o PT não divulgou o percentual de votos no pré-candidato socialista, o deputado Ciro Gomes (CE), e ainda ¿vendeu¿ a versão de que o crescimento de Dilma ocorreu à custa da queda do parlamentar cearense e da vereadora Heloísa Helena (AL).

¿O Ciro não aparece na pesquisa? Tínhamos claro que a ministra, graças à sua superexposição, passaria o deputado. Mas entendemos que a campanha só começa mesmo com a propaganda na televisão¿, afirmou Rollemberg. Ele ressaltou ainda que, apesar de Lula negar, governistas mantêm conversas sobre eventual mudança na Constituição para garantir ao presidente o direito de disputar um terceiro mandato seguido. O deputado Jackson Barreto (PMDB-SE) pretende apresentar até o fim da próxima semana uma proposta nesse sentido. ¿A gente percebe insinuações nos partidos, sobretudo no PMDB, sobre o terceiro mandato para Lula¿, arrematou Rollemberg.

Lula nega que queira continuar no Palácio do Planalto depois de 2011. Já afirmou que isso seria ¿brincar com a democracia¿. No curto prazo, considera a discussão um desserviço aos esforços para dar fôlego à ministra. ¿Vamos votar contra uma PEC desse tipo. Mas, se ela passar, vamos discutir o terceiro mandato da Dilma, porque o presidente Lula não será candidato¿, disse Vaccarezza. Os ministros da Justiça, Tarso Genro, e de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, ecoaram a mesma cantilena ontem. ¿Seria uma ruptura com esse processo de normalidade que todos estamos empenhados em afirmar¿, declarou Genro. ¿Essa questão do terceiro mandato se torna recorrente porque está estabilizado na mente de todo mundo que o governo brasileiro é de sucesso¿, acrescentou.

Pré-candidato do PSDB à Presidência, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, identifica outro motivo por trás da discussão. ¿É natural que setores do PT, talvez assustados com as perspectivas que a oposição tem para a eleição do ano que vem, pensem em terceiro mandato.¿