Título: Grito dos excluídos
Autor:
Fonte: O Globo, 12/10/2009, Opinião, p. 6

O MST ocupa prédios públicos para se fazer ouvir, principalmente pela sociedade brasileira. O Brasil é o único país com dimensões continentais que ainda não fez a reforma agrária. Isso se deve principalmente à mídia, que, quando fala do MST e da reforma agrária, é para falar mal ou desinformar, principalmente porque envolve o agronegócio.

Dá para sobreviver os dois, a agricultura familiar e o agronegócio. Mas tem que ser dito que o agronegócio é propriedade de poucas e ricas famílias, e voltado principalmente para exportação. Já a agricultura familiar, além de fixar na terra milhares de famílias, prioritariamente abastece a mesa dos brasileiros e já responde por mais da metade desse consumo.

No mundo desenvolvido, a agricultura se organiza através de minifúndio; isto porque os latifúndios, além de concentrar a produção na mão de poucos, normalmente praticam monoculturas, voltadas para a exportação; já o minifúndio amplia a variedade na produção, quase sempre voltada à mesa e ao consumo interno, e distribui a terra a um número maior de agricultores. No Brasil, além de gerar empregos no campo e evitar a migração, a reforma agrária aumentaria a oferta de alimentos de qualidade, puxando os preços para baixo, em razão da maior oferta.

Contraditoriamente, o agronegócio consegue junto ao governo rolar a eterna dívida e o chamado "dinheiro novo". Para isso conta com interlocutores poderosos como a mídia e a bancada ruralista - e até ministro já colocaram no governo, inclusive no de Lula. Já o MST e a agricultura familiar, para uma simples audiência, precisam ocupar sedes do governo. O MST agora tem ocupado prédios públicos em vários estados para cobrar a reforma agrária e protestar contra o corte de verba para os assentamentos. A quem interessa manter os latifúndios no Brasil?

EMANUEL CANCELLA é secretário-geral do Sindipetro-Rio.