Título: Reunião em Copenhague pressiona
Autor: Alves, Cristina
Fonte: O Globo, 13/10/2009, Economia, p. 20

Líderes políticos e analistas pedem compromissos para convenção de dezembro

COPENHAGUE. No último fim de semana, Copenhague virou uma Babel de jornalistas de mais de 150 países e pensadores de várias partes do mundo reunidos pelo Project Syndicate, uma associação com mais de 400 jornais mundo afora. Sob o lema ¿De Kioto a Copenhague¿, o encontro teve por meta discutir possíveis chances de sucesso da 15aConferência das Partes da Convenção de Mudança Climática (Cop15), em dezembro. Ninguém ousou dizer que estava otimista.

Na abertura, no majestoso Opera House, o ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan lembrou a uma plateia de quase 400 participantes que, só no último ano, mais de 20 milhões de pessoas se deslocaram no mundo por causa de desastres climáticos. Para que o planeta reduza significativamente as emissões globais até 2020 e em 50% até 2050 (em relação aos níveis de 1990), é preciso um esforço de todos, disse Annan. Nações industrializadas devem baixar de 25% a 40% suas emissões até 2020 e os países em desenvolvimento ¿ ele citou Brasil, China, Índia e África do Sul ¿ devem ter um empenho significativo para diminuir também suas emissões.

O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, cobrou das nações em desenvolvimento e disse que, mesmo que o mundo desenvolvido reduzisse suas emissões a zero e os países mais pobres continuassem emitindo, se chegaria a níveis perigosos de 650 ppm (partes por milhão) até 2050. Segundo climatologistas, o máximo tolerado seria de 550 ppm pelos próximos 30 anos para que não se ultrapasse a barreira de elevação de dois graus de temperatura. Barroso disse que as emissões per capita na Europa são menos da metade que a dos EUA.

¿ Não há plano B (para Copenhague) porque não há um planeta B ¿ resumiu.

Os europeus, porém, estão sob suspeita de terem avançado pouco nas negociações. Não está claro os motivos. Eleições nacionais, como a da Alemanha, ou a crise financeira global. Com 27 países, a União Europeia (UE) responde por 15% do total de emissões do mundo. Os EUA têm 20% (dados de 2007 da Netherlands Enviromental Assessment Agency). Pelos dados do IPCC, o painel do clima de 2007, as emissões cresceram 20% entre 2000 e 2007. A temperatura média da Terra subiu de 13,4 graus Celsius para 14 graus entre 1980 e 2005.

Em Copenhague, ficou clara a expectativa em relação aos EUA.

Na gestão de George W. Bush, os americanos não aderiram ao Protocolo de Kioto. Agora, laureado com o Prêmio Nobel da Paz, talvez Barack Obama consiga acelerar uma proposta americana sobre a mudança no clima, diz o economista Jeffrey Sachs, professor de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Columbia e conselheiro especial da ONU.

¿ Os americanos não estão mobilizados. Até agora, as mudanças na área de saúde dominaram as discussões no Congresso ¿ diz Sachs.

China é elogiada por ações contra aquecimento Joschka Fischer, ex-ministro das Relações Exteriores da Alemanha e líder do Partido Verde, cobrou uma postura mais arrojada dos europeus e lembrou que, nos últimos meses, pouco fizeram. No debate mediado por Fischer, a ministra dinamarquesa para Clima e Energia, Connie Hedegaard, lembrou que a UE já se comprometeu com meta de redução de 20% das emissões e que pode chegar a 30% se os outros acompanharem. No mesmo painel, a China foi elogiada.

Os chineses são hoje responsáveis pelo maior volume de emissões no mundo, com 22%, mas têm se comprometido a fazer cortes significativos. Connie elogiou a China por ter hoje a maior concentração de painéis de energia solar do mundo