Título: Ninguém se entende na Câmara
Autor: Azedo, Luiz Carlos
Fonte: Correio Braziliense, 22/05/2009, Política, p. 3

Michel Temer tenta apressar a tramitação da reforma política, mas o impasse é grande na Casa. O peemedebista anunciou que pretende criar três comissões especiais para discutir o assunto

Os líderes da Câmara não se entendem sobre a reforma política que pretendem fazer, tamanha a divisão nas bancadas em relação às propostas de voto em lista fechada, financiamento público de campanha, fim das coligações e cláusula de barreira. Não existe consenso sobre nada. Foi por isso que o presidente da Câmara, deputado Michel Temer (PMDB-SP), decidiu colocar em votação, na próxima semana, um requerimento de urgência para votação da reforma. Será um teste para medir as forças de quem quer mudar o sistema de votação e quem está contra. ¿Michel quer levar a reforma à votação com ou sem consenso¿, explica o líder do PT, Cândido Vaccarezza, um dos que defendem a proposta de voto em lista fechada com financiamento público.

A reunião dos líderes de bancada com Temer, ontem, na residência oficial, foi um desastre. O líder do PMDB, deputado Henrique Eduardo Alves (RN), que na terça-feira havia se convencido de que a proposta de voto em lista não passa em plenário e divide a base governista, ficou mudo na reunião. Saiu falando que só com criatividade será possível chegar a uma proposta de mudança do sistema eleitoral que tenha maioria. O mais veemente defensor da reforma política foi o líder do DEM, Ronaldo Caiado (GO), que sempre defendeu o voto em lista e o financiamento público. Por esse sistema, o eleitor votará na lista feita pelo partido, e não mais escolherá os candidatos de cada legenda nas eleições para vereador, deputado estadual ou distrital e federal. O vice-líder do PR, Lincon Portela (MG), avisou que seu partido, o PP e o PTB pretendem obstruir a votação caso o voto em lista fechada entre na pauta.

Diante do impasse, Temer sugeriu que se votasse um requerimento de urgência para saber se realmente há uma maioria a favor da reforma política. Foi a maneira que encontrou para ganhar tempo e sair da reunião com uma decisão. Também anunciou a criação de três comissões especiais. Uma delas para examinar as mudanças que exigem emendas à Constituição, como o voto distrital misto, o distritão e o voto majoritário. Também passariam por essa comissão as propostas de terceiro mandato para o presidente Lula, de autoria do deputado Jackson Barreto, que já conta com mais de 180 assinaturas, e a proposta de prorrogação de todos os mandatos por dois anos, para coincidência de mandatos de vereadores, deputados estaduais e federais, senadores, prefeitos, governadores e presidente da República, anunciada pelo líder do PR, Sandro Mabel (GO).

Temer também pretende criar uma comissão para tratar das propostas que podem ser aprovadas por maioria simples, sem mudança na Constituição, como voto em lista, financiamento público, cláusula de barreira e fidelidade partidária. O líder do governo, Henrique Fontana (PT-RS), que defende o voto em lista fechada com financiamento público, admitiu a possibilidade de desvinculação das duas propostas.