Título: Tentativa de isolar candidatura de Ciro piora relação do PSB com o PT
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 11/10/2009, O País, p. 4

Planalto pressiona por desistência, e socialistas queixam-se de terrorismo

Os próximos meses prometem ser tensos para a relação entre o PT e o presidente Lula com o PSB e o deputado e ex-ministro Ciro Gomes (CE). Os socialistas não escondem mais a contrariedade com a estratégia do Planalto de isolamento da candidatura presidencial de Ciro.

Passaram a classificar de terrorismo a pressão para que o deputado retire o seu nome da disputa de 2010. Já os petistas decidiram explicitar que, em hipótese alguma, a candidatura de Ciro terá a presença de Lula no palanque. Pior: nos bastidores, dizem que, se ele insistir na disputa presidencial, será tratado como um dissidente.

A expectativa no núcleo do Planalto é que Ciro não suporte a pressão e seja forçado a desistir da disputa.

¿ O presidente Lula só irá subir num palanque federal em 2010. E a candidata de Lula é a ministra Dilma (Rousseff) ¿ resumiu o líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP).

Ciro foge de seu estilo e evita briga pública Após uma conversa com Lula semana passada, um petista palaciano foi categórico e afirmou que Ciro só será candidato se Lula mudar de opinião e decidir ter dois candidatos como a melhor estratégia para vencer as eleições.

Diante da ofensiva palaciana, Ciro tem evitado comentar o tema, principalmente após os ataques recebidos do PT paulista e da ex-prefeita Marta Suplicy, que afirmou que ele não tem nada a ver com São Paulo. Fugindo a seu estilo mais conhecido, não pretende brigar publicamente.

Mas está decidido: não será candidato ao governo paulista.

Nos bastidores, Ciro dá sinais de que não vai desistir facilmente de seu projeto presidencial.

Especialmente agora que pesquisas indicam que ele está mais bem posicionado que Dilma ¿ e em alguns estados, como Santa Catarina, e no Distrito Federal já estaria liderando a disputa.

Os ataques do PT paulista semana passada só confirmaram a disposição de Ciro de permanecer no plano nacional.

E deram ao deputado o discurso que precisava para justificar sua posição junto a Lula: que já tinha feito o sacrifício de mudar o domicílio eleitoral, mesmo com prejuízo político no Ceará. E que não tem mais o que fazer, principalmente agora que está sendo atacado pelo próprio PT.

Ciro considera que deve priorizar a polarização com o primeiro colocado nas pesquisas e provável candidato do PSDB, o governador de São Paulo, José Serra. O deputado avalia que, se chegar a 20% das intenções de voto até março de 2010, terá chance de sair do isolamento e atrair pequenos partidos da base aliada.

¿ Há, sim, uma tentativa de isolamento, mas estamos muito animados. Ciro está numa boa fase. Se ele mantiver esse patamar nas pesquisas, vai atrair aliados. Nosso grande desafio, agora, é atrair aliados.

E para isso, Ciro tem que manter essa viabilidade eleitoral ¿ disse o líder do PSB, senador Renato Casagrande (ES), que rebateu as críticas de petistas de São Paulo em relação a Ciro.

¿ O PT de São Paulo não está em sintonia com o presidente Lula. Quando o partido chuta a canela de Ciro, trabalha de forma inversa. Isso só reforça o nosso projeto presidencial.

Berzoini: PSB deveria apoiar Dilma O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP) nega que haja um movimento para isolar a candidatura de Ciro, mas prega o apoio do PSB a Dilma.

¿ Não queremos fazer nenhum movimento de constrangimento.

Agora, o PSB deveria estar conosco no plano nacional.

Não há disposição do PT para isolar Ciro. Se o PSB quiser conversar, estamos dispostos ao diálogo ¿ disse o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP).