Título: Procuradores definem lista
Autor: Brito, Ricardo
Fonte: Correio Braziliense, 22/05/2009, Polítca, p. 8

Vice de Antonio Fernando de Souza é o mais votado entre os nomes que serão levados ao presidente Lula para comandar a instituição. Coordenador da área criminal e subprocuradora também estão incluídos

Num sinal de referendo à gestão do atual chefe do Ministério Público Federal (MPF), Antonio Fernando de Souza, mais de 60% dos procuradores da República votaram no vice-procurador-geral da República, Roberto Monteiro Gurgel, para comandar a instituição nos próximos dois anos. Na eleição da lista tríplice promovida ontem pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), Gurgel foi o mais votado da categoria, com 482 votos. Em segundo lugar, com 429 votos, ficou o subprocurador Wagner Gonçalves, que comanda a área criminal do MPF e, em terceiro lugar, a subprocuradora Ela Wiecko, com 314 votos.

Prestigiado internamente pelos colegas, o cearense Gurgel é ligado a Antonio Fernando e fez toda a sua carreira no MPF sempre em Brasília, onde entrou na instituição em 1982. Embora tenha predileção em atuar na área eleitoral, autointitula-se ¿clínico-geral¿, uma vez que já oficiou em vários dos ramos da carreira, como criminal, cível e defesa de minorias. O vice-procurador-geral defende a manutenção do foro privilegiado para autoridades investigadas criminalmente, ao contrário dos outros dois colocados. ¿É uma tradição brasileira¿, afirmou Gurgel ao Correio.

A votação em urnas eletrônicas feita pela ANPR teve uma alta adesão dos procuradores. Dos 1.069 integrantes da carreira filiados à associação, 790 votaram ¿ uma taxa de comparecimento de 74%. Cada procurador poderia votar em até três dos seis candidatos.

¿A eleição mostrou uma consolidação do modelo¿, afirmou o presidente da ANPR, Antonio Carlos Bigonha, para quem a disputa legitima a escolha. Desde 2001, a associação realiza a escolha interna. Pela primeira vez, o processo eleitoral ¿ o mais disputado da história da instituição ¿ teve um formato diferente, com a votação em candidatos inscritos previamente em chapas. Antes, os procuradores poderiam votar em quaisquer colegas da carreira. Ficaram de fora da lista o procurador da República Blal Yassine Dalloul (232 votos), o subprocurador Eitel Santiago (117) e o procurador regional Mário Ferreira Leite (18).

A eleição da ANPR não vincula à decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas o petista tem escolhido, nas três indicações que fez, o candidato mais votado da lista da associação. Ao contrário, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso jamais levou em consideração a eleição interna. Bigonha entregará a Lula na semana que vem a lista com os indicados pela categoria. O escolhido por Lula tem de ter seu nome aprovado em sabatina pelo Senado e deve assumir o cargo no final de junho.

Disputa Mesmo com a eleição de ontem, a corrida pelo cargo responsável por investigar o próprio Lula, o próximo presidente, ministros e governadores continuará nos corredores. O subprocurador Wagner Gonçalves pretende começar a fazer seus ¿contatos políticos¿ e espera contar com o apoio do ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, que já quis fazê-lo ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), e do atual, Tarso Genro, a quem pretende se encontrar em breve. ¿Logicamente não vou falar quem são meus apoiadores¿, despista Gonçalves. Ela Wiecko também deve procurar Tarso e espera contar com a simpatia dos movimentos sociais em prol da sua candidatura. ¿Não estou dentro desse movimento como projeto pessoal, mas sim de sociedade¿, avalia.

Bigonha espera que, mais uma vez, Lula opte ¿pelo mais legitimado¿ pelos procuradores. Ou seja, deseja que Gurgel seja o escolhido. Os preteridos criticaram a postura do presidente da associação, classificando-a como uma ¿camisa de força¿. ¿A lista tríplice existe justamente para dar uma opção do presidente da República¿, rebate Ela Wiecko. ¿Ele (Bigonha) não deveria ter falado isso¿, censura Gonçalves.

DOZE APROVADOS PARA O CNMP A Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado aprovou ontem, em votação secreta, os 12 nomes sugeridos por instâncias diversas do poder público para compor o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). As indicações, que ainda serão submetidas ao Plenário, foram feitas pela Procuradoria Geral da República (7), Supremo Tribunal Federal (1), Superior Tribunal de Justiça (1), Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (2) e pelo Senado Federal (1). Todos os 12 indicados manifestaram suas posições sobre a atuação dos procuradores e também responderam aos questionamentos dos senadores. Independência na atuação, punição para os excessos e exposição midiática dos procuradores foram alguns dos temas tratados pelos candidatos.