Título: Haddad confirma auditoria no Inep
Autor: Neto, Lauro
Fonte: O Globo, 15/10/2009, O País, p. 10

Ministro defende criação de estrutura interministerial para concursos e exames

BRASÍLIA. Em depoimento ontem na Câmara, o ministro da Educação, Fernando Haddad, confirmou que foi instaurada uma auditoria interna no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) para apurar a responsabilidade civil pelo vazamento da primeira versão da prova. O foco da investigação é descobrir quem sabia e qual foi o motivo da mudança no plano logístico de distribuição, que levou ao manuseio dos lotes dos cadernos de prova na Gráfica Plural, em São Paulo, como revelou o GLOBO no último domingo.

Foi nessa etapa improvisada que ocorreu o furto.

O ministro explicou que a estratégia de ressarcimento dos prejuízos depende do esclarecimento dessa situação ¿ não está claro se o Inep sabia do procedimento e o autorizou, e se o consórcio responsável cuidou da segurança.

¿ Se é verdade que a ocasião faz o ladrão, é o caso de perguntar qual foi essa ocasião.

Qual foi a falha operacional que permitiu que pessoas recém-contratadas pudessem ter subtraído a prova num ambiente de segurança ¿ disse Haddad.

O grupo já indiciado pela Polícia Federal, pelo furto e tentativa de venda do exame, foi contratado pelo Instituto Cetro, umas das empresas do consórcio, para a montagem de kits para São Paulo.

O ministro da Justiça, Tarso Genro, afirmou ontem que a Polícia Federal concluiu o primeiro inquérito sobre o caso, mas continuará com as investigações para verificar se a quadrilha tinha uma atuação mais ampla.

¿ Tudo indica que foi oportunismo.

As pessoas se organizaram rapidamente para conseguir uma prova e, depois, vendê-la ¿ disse Tarso.

Manuseio de provas é ponto de fragilidade Haddad confirmou que a Gráfica Plural foi vistoriada e aprovada nos quesitos de segurança exigidos pelo Inep. Porém, o manuseio de lotes deveria ser realizado exclusivamente na Funrio, do Rio de Janeiro, empresa integrante do consórcio responsável pela prova.

O governo estuda mas não deu detalhes sobre a necessidade de triagem das provas, um dos pontos de fragilidade do plano logístico de preparação dos exames. O manuseio era necessário porque as provas tinham capas personalizadas, obrigando a separação por cidade, escola e sala.

O modelo pode ser semelhante ao utilizado na distribuição do Manual do Inscrito do Enem (kit com o cartão de inscrição, questionário socioeconômica e outras informações).

Eles foram impressos na Plural e os Correios montaram uma operação no local, sob supervisão direta e diária de uma equipe do Inep. Essa fiscalização não foi feita na etapa seguinte, quando ocorreu a falha.

Segundo Haddad, a segurança da prova anterior era responsabilidade do consórcio, não do Inep.

¿ A auditoria do Inep é focada nisso: se alguém soube dessa mudança e por que o plano logístico foi alterado ¿ afirmou o ministro. ¿ Mesmo que eles tivessem uma resposta positiva do Inep, isso não exime o consórcio da responsabilidade de resguardar essa área.

A exemplo da força-tarefa que montou para coordenar o Enem, Haddad defendeu a criação de uma estrutura interministerial no governo para administrar concursos e exames: ¿ As tentativas de fraude são numerosas, precisamos nos blindar. Quando ocorre uma fraude, a corrupção vira o canal de entrada de um criminoso na máquina pública ou na universidade.

(Leila Suwwan)