Título: Mercados em dia de euforia e recordes
Autor: Frsich, Felipe
Fonte: O Globo, 15/10/2009, Economia, p. 29
Com China e EUA, Bolsa de SP passa dos 66 mil pontos e dólar cai a R$ 1,70. Em NY, Dow fica acima de 10 mil
A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) rompeu ontem duas barreiras importantes no seu principal indicador, o Índice Bovespa (Ibovespa), que ultrapassou, no mesmo dia, os 65 mil e os 66 mil pontos. Já o dólar caiu para R$ 1,70.
Num dia de otimismo global, o Ibovespa encerrou com ganho de 2,41%, aos 66.201 pontos, maior pontuação em 16 meses, desde 19 de junho do ano passado. Os ganhos foram puxados pelas ações da Vale e de siderúrgicas, em forte alta com o anúncio do aumento de 65% das importações de minério de ferro pela China, em setembro, batendo novo recorde histórico, de 64,55 milhões de toneladas.
O Dow Jones, principal índice da Bolsa de Nova York, fechou acima dos dez mil pontos, o que não ocorria desde 3 de outubro de 2008.
No Brasil, as ações da Vale, que têm peso de 16% no Ibovespa, subiram 4,62%, figurando nas maiores valorizações entre os papéis que compõem o índice, ou seja, os mais negociados da Bolsa. Já as ações de Gerdau, Usiminas e CSN subiram mais de 5%, até mais de 6% no caso da Gerdau. Juntas, as três empresas têm peso de 11% no Ibovespa. A euforia também puxou o volume da Bolsa, que chegou a R$ 14,5 bilhões no dia. Mesmo descontando os R$ 2,43 bilhões dos contratos de opções de Ibovespa, que venciam ontem, o volume supera bastante a média recente em trono de R$ 5 bilhões diários.
¿ O mercado amanheceu forte com os dados da balança comercial chinesa e as commodities (matérias-primas) para cima. Os resultados (das empresas) estão vindo acima do esperado, o mercado está bem-humorado à beça ¿ sintetizou o economista da Um Investimentos, Hersz Ferman, destacando ainda as ações de construtoras, em alta devido à expectativa de que o novo aporte de capital do governo na Caixa ajude o setor.
Diante da alta das commodities, especialmente as metálicas, o dólar caiu no mundo, com investidores vendendo a moeda americana para comprar metais. No Brasil, a moeda americana despencou 1,39%, em queda pelo quarto dia consecutivo, e foi a R$ 1,703, a cotação mais baixa desde setembro de 2008, apesar de o Banco Central (BC) ter comprado moeda no mercado à vista. No ano, a divisa já cai 27% e a Bolsa sobe 76%.
Os dados de outubro tornaram ainda mais evidente o trabalho do BC para tentar segurar ¿ até agora, sem sucesso ¿ a forte apreciação do real frente ao dólar. Nos nove primeiros dias úteis do mês, foi registrado o maior superávit do fluxo cambial (entrada e saída de moeda estrangeira) de 2009, considerandose inclusive os meses fechados.
No período, o BC fez sua maior compra de dólares no mercado à vista, superando agosto e setembro juntos. Entre os dias 1º e 9, foram US$ 5,383 bilhões, quase 90% do comprado nos dois meses anteriores (US$ 6,106 bilhões).
Esse montante já é maior que todos os movimentos mensais fechados desde que o BC voltou a comprar dólar, em maio. Só em 8 de outubro foram US$ 4,640 bilhões, enxugando a liquidez decorrente da oferta de ações do banco espanhol Santander.
A operação também puxou o fluxo cambial, que, entre os dias 1º e 9, teve saldo positivo de US$ 3,725 bilhões, acima dos resultados fechados de todos os meses deste ano
JPMorgan surpreende e lucra US$ 3,6 bi
A melhora nos dados de comércio exterior da China em setembro foi vista como mais um sinal de firmeza na recuperação da economia do país, o que influenciou as commodities. No total, as exportações chinesas caíram 15,2% em relação a setembro de 2008, e as importações, 3,5% ¿ a menor queda em 11 meses. A Bolsa de Xangai subiu 1,17%, atingindo seu maior patamar em 14 meses. Seul avançou 1,25% e Hong Kong, 1,95%. Já o Nikkei, em Tóquio, recuou 0,16%.
Além da euforia chinesa ¿ que ajuda especialmente a Bolsa brasileira, com peso de cerca de 50% em ações ligadas a matérias-primas ¿, o mercado de ações também repercutiu números positivos da economia americana e o início da safra de balanços das empresas do país, especialmente bancos, acima das expectativas.
Os investidores americanos ficaram otimistas com o resultado do banco JPMorgan Chase, que no terceiro trimestre lucrou US$ 3,6 bilhões, ou US$ 0,82 por ação. As projeções eram de US$ 0,52 por ação. No mesmo período de 2008 ¿ o auge da crise financeira ¿ o ganho foi de US$ 527 milhões.
Outros fatores positivos foram os dados de estoques e vendas no varejo.
Os estoques empresariais caíram 1,5% em agosto, a maior queda desde dezembro e atingindo o menor nível desde dezembro de 2005. Esperavase recuo de 0,9%. Já as vendas do varejo recuaram 1,5% em setembro, contra projeções de queda de 2,7%. Segundo analistas, o resultado deve-se ao fim do programa Dinheiro por Sucata: excluindo automóveis, as vendas subiram 0,5%.
O Dow Jones subiu ontem 1,47%, aos 10.015 pontos. Nasdaq e Standard& Poor¿s também fecharam em alta, de 1,51% e 1,75%, respectivamente.
Na Europa, o lucro do JPMorgan e os dados da China influenciaram o setor bancário e os papéis ligados a commodities. Londres avançou 1,98%, Frankfurt, 2,45%, e Paris, 2,14%.