Título: Bancos oficiais terão aporte de capital
Autor: Beck, Martha
Fonte: O Globo, 15/10/2009, Economia, p. 31

Medida ampliará crédito da Caixa em R$ 70 bi. BNB e BNDES também negociam

BRASÍLIA. No esforço para manter alto o cacife dos bancos públicos e prosseguir com a política agressiva de crédito oficial, a União prepara uma injeção de recursos, por meio de capitalizaçãoempréstimo, nas instituições que controla. Além da Caixa Econômica Federal, que terá aporte de R$ 6 bilhões ¿ conforme prevê a Medida Provisória (MP) 470 divulgada ontem ¿, uma capitalização de R$ 2 bilhões no Banco do Nordeste (BNB) está em negociação. O BNDES também negocia novo empréstimo, a exemplo dos R$ 100 bilhões acertados em janeiro.

E não está descartada uma operação semelhante com o Banco do Brasil (BB).

O aporte de recursos na Caixa permitirá ao banco ampliar os empréstimos em R$ 70 bilhões este ano, incluindo pessoas físicas, empresas, financiamentos habitacionais e a área de saneamento. A instituição também planeja comprar participação em bancos de médio porte, com foco em crédito consignado e middle (empréstimos a empresas menores).

¿ A Caixa está aumentando muito seus financiamentos.

Até o fim do ano, seus empréstimos para a área de habitação devem chegar a R$ 40 bilhões, sendo que eles já estão em mais de R$ 30 bilhões.

Por isso, ela precisa de mais capital ¿ afirmou o ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Segundo o secretário-adjunto do Tesouro Nacional, Marcus Aucélio, a regulação internacional determina que as instituições financeiras mantenham um patrimônio equivalente a, no mínimo, 11% do total de crédito concedido (R$ 11 guardados para cada R$ 100 emprestados). Na Caixa, esse percentual está em 16%, ante 19,4% em setembro de 2008, período em que o banco expandiu o crédito em 61%.

Mantido o ritmo, o banco corria o risco de ficar fora das regras no segundo trimestre de 2010.

Banco do Nordeste precisa de mais de R$ 2 bi O Banco do Nordeste também busca solução junto ao governo federal para garantir à instituição posição confortável em relação aos empréstimos. O banco, que responde pela maior parte do crédito na região, inclusive o rural, tem um patrimônio de R$ 2 bilhões e precisa de mais R$ 2 bilhões. A carteira de crédito saiu de R$ 1,4 bilhão em 2002 para R$ 20 bilhões em 2009.

¿ Estamos mantendo conversas com o Tesouro. Esse aporte é necessário para atender a região, que vem num ritmo de crescimento e maior demanda por crédito ¿ afirmou o diretor da área de Finanças do Banco do Nordeste, Luiz Henrique Mascarenhas.

Ele contou que, em junho, a reserva de capital próprio do banco em relação aos empréstimos chegou a 11,32% (próximo ao limite de 11%). A instituição se viu obrigada a recorrer a R$ 600 milhões do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE), o que permitiu elevar o patamar para 13,5%. Outros R$ 400 milhões poderão ser utilizados, caso a margem fique apertada de novo.

Para evitar que esse tipo de problema prejudique sua expansão de crédito, o BB fez anteontem operação para captar no mercado US$ 1,5 bilhão.

¿ Fizemos a captação porque a gente não quer ver o incêndio chegar e deixar de fazer bons negócios, seja captação de clientes ou aquisições, devido à restrição de capital ¿ disse o vice-presidente de Finanças do BB, Ivan Monteiro