Título: Boeing melhora oferta para tentar vender caças
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 17/10/2009, O País, p. 12

Entre as promessas da americana está ajudar as empresas brasileiras a entrarem no mercado global de aviação

Além de reafirmar a garantia de transferência de tecnologia do F/A-18 Super Hornet para o Brasil, a Boeing ¿ que disputa com a francesa Dassault e a sueca Saab um contrato para a venda de 36 caças ao país ¿ melhorou a sua oferta com pelo menos duas iniciativas.

Uma delas é a promessa de que empresas brasileiras passariam imediatamente a produzir peças para aviões da Marinha americana; e também, em parceria com a própria Boeing, entrar no mercado global da aviação, passando a fornecer outros equipamentos ¿ inclusive asas e fuselagem do Super Hornet ¿ tanto para os Estados Unidos como para vários outros países.

Essas iniciativas foram reveladas ontem ao GLOBO por dois altos funcionários da embaixada dos EUA em Brasília: ¿ A indústria aeroespacial brasileira se tornaria o principal fornecedor e parceiro da Boeing no mercado global, e especificamente no mercado de defesa dos EUA, que é dez, cem vezes maior que os mercados dos competidores ¿ disse uma das fontes.

Segundo ambas, o governo americano foi autorizado pelo Congresso daquele país a transferir, em termos de tecnologia, ¿tudo aquilo que foi exigido pela Força Aérea do Brasil¿, sem restrições.

¿ Obtivemos uma autorização sem precedentes de todos os setores do governo, inclusive do Congresso, pois ela foi alcançada antes mesmo de haver um contrato. Autorizaram inclusive o uso de sistema de armas made in Brazil no caça.

Essa integração jamais foi feita com os Super Hornets.

Em carta enviada ao GLOBO, ontem, a Boeing insistiu no fato de que em agosto o próprio presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, garantira ao governo brasileiro que nenhum item contido na proposta da empresa ¿será sujeito a nova revisão¿.

EUA têm um poder de veto de longo alcance Na quarta-feira, falando à Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara, em Brasília, Bob Gower, vice-presidente da Boeing, disse que a empresa se compromete a criar no Brasil o Centro de Capacitação da Boeing, cujo foco será trabalhar na evolução da próxima geração de tecnologias: ¿ Vislumbro um futuro em que caças Super Hornet serão construídos no Brasil. Enxergo ainda um futuro onde Super Hornets serão mantidos e modernizados por brasileiros ¿ disse o executivo.

Confrontados com a promessa da França, de permitir que o Brasil vendesse os seus caça Rafale a países da América do Sul, os funcionários americanos rebateram: ¿ Bom, isso agora é uma questão de ver o que o Brasil prefere: entrar no mercado global de aviação (de mãos dadas com a Boeing) ou ter a possibilidade de vendas muito hipotéticas na região.

Os americanos também procuraram deixar claro que, qualquer que seja o resultado da concorrência, os EUA teriam em mãos, se fosse o caso, o poder de vetar potenciais vendas pelo Brasil tanto dos caças Rafale (França) como dos Gripen (Suécia) que viessem a ser montados ou construídos no país: ¿ Caso os EUA decidissem restringir o uso de sua tecnologia pelo Brasil, isso afetaria todos os competidores, pois há tecnologia americana tanto no Gripen como no Rafale.