Título: Pressão do governo deve perder força
Autor: Gois, Chico de; Melo, Liana
Fonte: O Globo, 17/10/2009, Economia, p. 29

Custo político da intervenção na gestão da empresa foi alto, diz analista

A pressão exercida pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a Vale para mudar o comando da mineradora tomou proporções e visibilidade nunca antes vistas, mas pode estar mais próxima do fim. Essa tentativa do governo de ditar os rumos da empresa tende a perder força já que a Vale decidiu dar celeridade aos seus projetos na área de siderurgia, o principal ponto de discórdia entre a atual gestão da empresa e o governo, que detém participação na Vale por meio dos fundos de pensão de estatais e da BNDESPar.

¿ O normal é que essas desavenças entre os sócios sejam resolvidas entre quatro paredes. Só que o governo acabou dando visibilidade ao que chamamos no mundo dos negócios de governança invisível ¿ analisa Wagner Teixeira, da Bernhoeft & Teixeira, comentando que a interferência do governo na gestão da empresa é compreensível, apesar de ter extrapolado. ¿ Por ser sócio da Vale através das participações do fundo de pensão do Banco do Brasil (Previ) e da BNDESPar, o governo acabou confundindo os papéis.

Para o governo, é alto o custo político que está pagando por esse tipo de postura, na avaliação do cientista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria Integrada. Ele considera que o governo recuou a tempo, ainda que tenda a continuar apostando no ¿modelo desenvolvimentista¿, de que lançou mão, no fim do ano passado, como antídoto à crise financeira global: ¿ O governo vai continuar forçando a Vale a investir mais no país, ainda que fosse preferível deixá-la tomar suas próprias decisões.

O analista Leonardo Alves, da Link Investimentos, concorda com a análise, até porque, diz ele, o gestor da Vale (Agnelli), apesar de todas as críticas, está conseguindo criar riqueza e pagar dividendos.

Além do mais, o preço do minério de ferro, que logo após a crise caiu, já voltou a subir em torno de 10%.

¿ Tudo indica que, este ano, a Vale deve conseguir distribuir dividendos próximos aos do ano passado, que foram equivalentes a US$ 2,5 bilhões ¿ conclui Alves, acrescentando que ¿desavenças entre acionistas devem ser resolvidas no privado e não em público¿.

(Liana Melo)