Título: Lula elogia Vale, mas cobra geração de empregos
Autor: Gois, Chico de; Melo, Liana
Fonte: O Globo, 17/10/2009, Economia, p. 29

As grandes empresas também têm de fazer acontecer", diz presidente, que receberá Agnelli na segunda-feira

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que receberá, na segunda-feira, em São Paulo, o presidente da Vale, Roger Agnelli. Em linha com a estratégia política que traçou, Lula ¿ insatisfeito com a gestão da mineradora ¿ evitou comentar as rusgas com Agnelli em público e até elogiou a companhia, descartando ¿problemas¿. Não deixou, porém, de marcar posição quanto às escolhas da Vale e afirmou que grandes empresas ¿têm de fazer acontecer¿.

¿ Vamos ter um encontro na próxima segunda-feira em São Paulo em que ele vai me apresentar os projetos da Vale. São investimentos importantes. O que eu quero é que a Vale, que é uma empresa muito importante para o Brasil, não fique pensando que é apenas interesse do governo fazer as coisas acontecerem no Brasil. As grandes empresas também têm de fazer acontecer. A Vale sabe sua importância.

Portanto, eu quero exportar mais valor agregado do que minério. Eu quero gerar mais empregos ¿ afirmou o presidente, na última etapa da caravana do governo às obras de transposição do São Francisco.

Crítico da gestão da empresa e rompido com o executivo desde setembro, o presidente negou uma audiência a Agnelli na última terça-feira.

O encontro de segunda-feira será para a apresentação dos planos de investimento de 2010.

Tentando estancar a sangria de Agnelli no cargo, Lula afirmou que há cerca de um mês conversou com o executivo e que os planos apresentados ¿ que incluem a construção de siderúrgicas, o que aumentará o valor agregado da produção da Vale ¿ o deixaram satisfeito.

¿ Não tem problema com a Vale. Faz mais de um mês que eu chamei o Roger Agnelli para conversar.

Tivemos uma boa conversa.

Ele apresentou alguns projetos de investimentos que me satisfaziam. Me deixou feliz porque vamos fazer algumas siderúrgicas ¿ amenizou Lula.

Porém, como O GLOBO revelou, este encontro, em 8 de setembro, foi marcado por um bate-boca entre Agnelli e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que acusou a Vale de preterir fornecedores nacionais.

Ações da Vale recuaram com possibilidade de taxação Nas últimas 48 horas, a situação começou a mudar. Lula e Agnelli se falaram três vezes por telefone, segundo fonte próxima ao executivo. O presidente da Vale disse que o plano de investimentos está concluído, e os projetos em siderurgia serão acelerados.

Ficou acertado um acordo de ¿convivência¿: nenhum executivo será substituído, e a Vale fará ¿investimentos vigorosos¿, como quer o Planalto.

Sobre estudos dos ministérios da Fazenda e do Desenvolvimento para taxar a exportação de minérios, o presidente primeiro respondeu que o governo não estava pensando no assunto.

Depois, explicou que não gosta de falar de assuntos de economia, porque pode trazer prejuízos para o Brasil: ¿ Na hora que tiver de tomar uma decisão, nós vamos tomar.

Já o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, afirmou que não há conversas no governo sobre a taxação.

As ações da Vale sofreram ontem durante o dia, diante da possibilidade da taxação. Caíram 2,21%, mas reduziram as perdas para 0,12% no fechamento.

(*) Enviado especial