Título: ONU condena Israel por Gaza
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Fonte: O Globo, 17/10/2009, O Mundo, p. 33

Conselho de Direitos Humanos aprova relatório que acusa país e o Hamas de crimes de guerra

GENEBRA

O Conselho de Direitos Humanos da ONU aprovou ontem um relatório que condena Israel por crimes de guerra e ações que ¿possivelmente são crimes contra a Humanidade¿, numa das mais graves acusações contra o país já feitas pela comunidade internacional. A resolução, aprovada com apoio de Brasil, China, Rússia e Índia, mas com a resistência dos EUA e de alguns países europeus, vai além da investigação da ONU sobre a guerra e culpa Israel pelo cerco aos palestinos de Gaza.

O Hamas, que também é condenado por crimes de guerra no relatório, não foi citado na resolução somada a ele ontem.

Segundo a medida, Israel e Hamas têm seis meses para realizar investigações imparciais sobre os crimes. Se não fizerem isso, o caso irá para o Conselho de Segurança, que deverá remeter a questão para o Tribunal Penal Internacional.

A comissária da ONU para Direitos Humanos, Navi Pillay, elogiou a decisão, e exortou os dois lados a iniciarem imediatamente ¿investigações imparciais, independentes, rápidas e eficazes¿.

¿ Uma cultura de impunidade continua a prevalecer nos territórios ocupados e em Israel ¿ disse ela.

A condenação ocorreu devido à guerra de Israel contra o Hamas em Gaza, em dezembro e janeiro últimos. O relatório de 575 páginas do juiz sul-africano Richard Goldstone afirma que há provas de que Israel ¿cometeu ações que equivalem a crimes de guerra, possivelmente crimes contra a Humanidade¿, ao fazer um uso desproporcional da força, ao deliberadamente usar civis como alvos, ao usar palestinos civis como escudos humanos e ao destruir a infraestrutura civil durante a guerra. Israel também foi criticado por prejudicar a investigação ordenada pela ONU. O Hamas também foi acusado por atirar, por meses, foguetes contra civis israelenses.

Durante a guerra, morreram 1.387 palestinos, mais da metade civis e dezenas deles crianças.

Treze israelenses morreram, três deles civis.

Além da votação sobre o relatório técnico de Goldstone sobre as ações militares, o Conselho aprovou uma ¿forte condenação de todas as políticas e medidas e tomadas por Israel, a potência ocupante, inclusive aquelas que limitam acesso dos palestinos a suas propriedades e locais sagrados na Jerusalém Oriental ocupada.¿ Os acréscimos ao relatório foram condenados pelo próprio Goldstone, que não queria misturar questões políticas com as ações de guerra.

Israel diz que decisão encoraja terrorismo

O governo de Israel, que durante meses trabalhou diplomaticamente ao lado dos EUA para evitar a aprovação do relatório, condenou: ¿Esta resolução encoraja grupos terroristas em todo o mundo, e mina a paz mundial.¿ A Autoridade Nacional Palestina elogiou.

¿ A comunidade internacional deve assegurar que a decisão se torne um precedente que garantirá a proteção do povo palestino de qualquer agressão ¿ disse Nabil Abu Rdaineh, assessor da presidência da ANP.

Já o líder do Hamas no exílio, Khaled Meshaal, ignorou o fato de seu grupo também ter sido condenado e agradeceu: ¿ Dizemos a todos os países do mundo que julguem Israel e seus líderes políticos e militares pelos crimes contra o nosso povo.

Dos 47 membros do conselho, 25 votaram pela aprovação do relatório e a inclusão das críticas a Israel por sua postura diante dos palestinos, incluindo os de maioria muçulmana, e quase todos os sul-americanos. Só seis países votaram contra: EUA, Eslováquia, Hungria, Itália, Holanda e Ucrânia. Onze se abstiveram, entre eles Japão, México, Bélgica, Coreia do Sul e Uruguai.

Num caso raro, cinco países decidiram não votar, entre eles França e Reino Unido. Os dois países, depois da votação, explicaram que não votaram porque participam das negociações de paz. Numa carta assinada pelo presidente Nicolas Sarkozy e pelo primeiro-ministro Gordon Brown, eles pedem que Israel inicie uma investigação transparente, interrompa a construção de assentamentos e permita o acesso a Gaza.

Já os EUA, através de seu enviado Douglas Griffiths, afirmaram que a medida seria um entrave para a paz: ¿ Estamos concentrados em avançar o processo de paz. Isso é uma distração.