Título: Os queridinhos do presidente Lula
Autor: Rangel, Juliana
Fonte: O Globo, 17/10/2009, Economia, p. 32

Investimentos da Odebrecht na América do Sul deram prestígio a empresário da construtora. Donos de Friboi e Sadia também são preferidos.

BRASÍLIA. No debate sobre desempenho, gestão e projeção política que colocou na berlinda o presidente da Vale, Roger Agnelli, alguns empresários brasileiros, como Marcelo Odebrecht, da construtora batizada com seu sobrenome, e o presidente do frigorífico Friboi, Joesley Batista, pegaram o caminho oposto e conquistaram um lugar privilegiado no coração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, juntamente com Eike Batista, dono do grupo EBX.

Segundo um executivo do setor privado, o prestígio de Marcelo, presidente da Odebrecht, chega a despertar ciumeira do empresariado brasileiro nas viagens de Lula ao exterior.

Os investimentos da Odebrecht nos países sul-americanos, seguindo a cartilha do governo em sua política de integração Sul-Sul, garantiram louros importantes à empresa.

O mais visível foi na crise com o Equador, que questionou o contrato com a empreiteira brasileira e ameaçou não pagar o que devia. Em nenhum momento, ninguém do governo esboçou a menor suspeita de que o presidente equatoriano, Rafael Correa, poderia estar certo.

Já o presidente do Friboi tem sido elogiado por Lula por seu desempenho especialmente na batalha pela conquista de novos mercados.

Outra pessoa prestigiada no governo é o ex-ministro do Desenvolvimento Luiz Fernando Furlan, da Sadia. Suas relações com Lula tiveram um certo abalo, devido à crise enfrentada pela empresa, por ter feito uso de derivativos para especular com o câmbio. Mas uma fonte oficial garante que o desconforto já passou.

Pessoas próximas a Lula disseram que o presidente não costuma misturar afetividade com tratamento institucional. Um exemplo é o empresário Paulo Skaf, que preside a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Na época presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Skaf foi um dos primeiros grandes empresários que declarou seu voto em Lula, em 2002.

Essa boa convivência começou a ter problemas quando este brigou com Furlan, por causa da eleição na Fiesp. Skaf também não se conformou com o fim das negociações para a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Tornouse um dos mais ferozes críticos do governo.

A Embraer também decepcionou Lula com a demissão de milhares de servidores especializados. A questão é que o próprio presidente reconheceu que, com a redução da demanda mundial causada pela crise financeira, não havia muito a fazer. O mercado da Embraer é praticamente 100% internacional.

O que se espera é que, com a recuperação das economias, a empresa volte a brilhar e ser citada nos discursos proferidos pelo presidente da República.

¿ O que pesa agora é como as empresas estão fazendo para contornar as turbulências ¿ disse uma fonte.

O setor de mineração, que este ano repassou ao governo R$ 500 milhões em royalties, também desagrada.

A Vale, segundo técnicos de dois ministérios, estaria entre as empresas que têm concessão de minas e não as exploram devidamente, acentuando a forte dependência do Brasil em importações de fertilizantes para a agricultura.