Título: Petrobras aposta em refinarias no exterior
Autor: Rangel, Juliana
Fonte: O Globo, 17/10/2009, Economia, p. 32

Com pré-sal no Brasil, empresa redireciona investimentos externos e planeja ter uma rede de postos nos EUA

Ante a necessidade de concentrar investimentos no présal brasileiro, estimados em US$ 111,4 bilhões até 2020, a área internacional da Petrobras se prepara para uma megarreestruturação que será apresentada no planejamento estratégico de 2010 a 2014.

Além de reduzir o fôlego pela exploração e produção no exterior ¿ o segmento ficou com 79% do orçamento da diretoria de US$ 15,9 bilhões de 2009 a 2013 ¿ a empresa vai mirar em projetos de abastecimento e refino em Estados Unidos e Europa.

Atualmente, a área de abastecimento fica com apenas 5% dos investimentos externos. Já a distribuição (rede de comercialização) tem 7%.

¿ Fatalmente vai haver uma maior participação dos segmentos de refino, distribuição e de gás no lugar de exploração e produção. É um movimento natural que vai acontecer. Você não faz uma correção brusca da noite para o dia, mas vai haver um movimento de diminuir exploração e produção até porque as potencialidades aqui dentro aumentaram bastante ¿ disse o diretor da área Internacional da empresa, Jorge Zelada, em entrevista exclusiva ao GLOBO.

Por trás do rearranjo está uma meta ainda mais ambiciosa da Petrobras. Com o aumento estimado para a produção nacional e os investimentos feitos em refino no Brasil, a empresa já se enxerga com potencial exportadora de derivados dentro de alguns anos.

Parceria com Galp pode ser porta de entrada na Europa

Dentro da nova estratégia, ter uma rede de postos nos Estados Unidos não está descartado.

Mas o formato que vem ganhando mais força entre os executivos da companhia são investimentos mais contundentes na capacidade de refino no país.

A empresa já tem a refinaria de Pasadena, no Texas, e não descarta a aquisição de novas unidades se necessário, embora o foco seja ampliar as atividades no parque brasileiro.

No planejamento atual, está prevista a construção de ao menos dez refinarias, além de investimentos na ampliação da capacidade das já existentes.

Na Europa, o foco seria comercializar diesel de melhor qualidade. Como a empresa ainda não está presente em refino e distribuição no continente, sua entrada se daria por meio de associações com empresas locais.

A portuguesa Galp, da qual a Petrobras já é sócia em áreas do pré-sal e em projetos de biocombustível, seria uma candidata natural à parceria. A empresa é sócia da Petrobras em 30 blocos licitados pela Agência Nacional do Petróleo, incluindo o BMS-11, onde estão localizadas as megadescobertas da área de Tupi, no pré-sal brasileiro.

As duas também têm negócios em biocombustíveis e exploram, juntas, o petróleo da área de Peniche, em Portugal.

¿ A Galp já é uma parceira nossa aqui. Hoje, também tem projetos conosco na área de biocombustível. Ou seja, é uma empresa que tem alguns negócios com a Petrobras.

Sim, ela poderia fazer parte desse processo também.

Na exploração e produção, o objetivo da Petrobras será manter os projetos nos quais já tem participação. Nos novos negócios, ela se voltará, prioritariamente, para países com potencial para existência de óleo no pré-sal. A decisão faz de Angola a nova aposta da companhia.

Meta é furar nove poços em Angola, a partir deste mês

Ainda neste mês, a Petrobras dará início a uma campanha de exploração no país, onde tem cinco blocos, dos quais opera três. A sonda Petrobras 10 mil, feita na Coréia, tem previsão de perfurar nove poços.

¿ A partir dos resultados, vamos definir as próximas fases ¿ afirmou Zelada.

Por trás do otimismo estão evidências de similaridades geológicas da costa Oeste da África com as bacias brasileiras.

Outros países da região em que a companhia está presente são Namíbia, Senegal e Nigéria, onde tem dois campos.

¿ Vamos começar uma campanha de exploração em Angola, que pode nos dar algum resultado que eu não saberia dizer agora ¿ disse, indagado sobre a chance de existência de óleo no pré-sal.

Apesar da fatia que cabe à área internacional nos investimentos da empresa vir caindo, ele nega o enfraquecimento da atuação no exterior.

¿ Aquilo que estava planejado não arrefeceu. É mantido no mesmo plano que havia sido estabelecido, mas com algumas diferenças.