Título: DF em má situação
Autor: Mariz, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 01/06/2009, Brasil, p. 7

As equipes mínimas de cada Caps são estabelecidas por portarias. Englobam profissionais com formação em saúde mental, além de assistentes sociais, acompanhantes terapêuticos, entre outros. No papel, existem como um local que vai além do tratamento. Espécie de segunda casa, onde o paciente faz as refeições, participa de terapias ocupacionais, trabalha em programas de geração de renda. Até o transporte para que ele se desloque de sua residência ao Caps é previsto. O funcionamento real dessas unidades, entretanto, tem muito pouco a ver com o estabelecido legalmente.

¿Temos falta de psiquiatra até nos Caps de Salvador. No interior, a situação é ainda mais gritante¿, reconhece Débora Carmo, diretora de gestão do cuidado da Secretaria Estadual da Bahia. Mesmo com tantas deficiências, a cobertura no estado é considerada boa. Assim como em parte considerável do Nordeste. Quatro, entre as seis unidades da Federação apontadas como as que têm o melhor atendimento de Caps, são nordestinas. As três primeiras colocações estão com Paraíba, Sergipe e Alagoas, com mais de 80% de cobertura.

¿Contraria uma iniquidade histórica brasileira no que diz respeito à saúde, onde geralmente o Nordeste aparece em situação desprivilegiada¿, observa Pedro Delgado, coordenador nacional de saúde mental do Ministério da Saúde. Outro contrassenso está aqui, no DF. Destacado por um padrão acima da média nos serviços de saúde, a capital federal é a penúltima unidade da Federação em cobertura de Caps, perdendo apenas para o Amazonas. Coordenador de Saúde Mental do DF, Ricardo Lins aponta outras ações, como capacitação em postos de saúde e nas equipes do Saúde da Família, como importantes.

Políticas que parecem não chegar a quem precisa. Andrea*, esquizofrênica, teve de ser atendida de madrugada no meio de um surto há cerca de seis meses. ¿Não dava tempo de chegar ao Vicente de Paula (único hospital psiquiátrico do DF, em Taguatinga), então a levamos para um hospital normal, onde o tratamento foi um tranquilizante na veia e pronto. Ela dormiu e a mandaram de volta para casa¿, reclama Mariana, irmã de Andrea. (RM)