Título: Em reunião com Vale, Lula cobrará também projetos das siderúrgicas
Autor: Alvarez, Regina; Melo, Liana
Fonte: O Globo, 19/10/2009, Economia, p. 18

BRASÍLIA e RIO. O encontro do presidente Lula com o diretor-presidente da Vale, Roger Agnelli, previsto para hoje à tarde, no escritório da Presidência da República em São Paulo, deve servir para apaziguar o clima de constrangimento entre os dois. Só que o governo continua insatisfeito. O descontentamento não se restringe à mineradora. Ele se estende também ao setor siderúrgico. É que, no entendimento do Planalto, as empresas do setor praticam um "capitalismo medíocre", voltado exclusivamente para o lucro e sem visão estratégica, o que acaba contrariando o interesse nacional, admitiu um assessor de Lula.

Ainda segundo este assessor, o governo estaria convencido de que, para mudar esta situação, é necessário intervir no planejamento estratégico das siderúrgicas. E, apesar dos desentendimentos recentes entre Lula e Agnelli, nos bastidores, os auxiliares do presidente consideram que a Vale nem é o problema central, diante da postura "predadora" das siderúrgicas. Mas, na condição de maior mineradora do país, a empresa acaba pautando todo o setor siderúrgico.

- Alguma coisa vai ter que mudar. Senão, daqui a pouco, o país vai estar importando aço - afirma um assessor direto de Lula, refletindo sobre a situação atual.

Se depender de Agnelli, o país não corre este risco. Hoje, ao encontrar-se com Lula, o executivo vai anunciar o plano de investimentos da Vale para 2010. Um dos projetos da mineradora é um incremento de 50% na produção nacional de aço. Os quatro projetos siderúrgicos da Vale, que está entrando no setor em parceria com outros sócios, vão jogar no mercado mais 18,5 milhões de toneladas de aço.

Nenhum dos quatro projetos é novo, mas, para convergir com os interesses do governo, os acionistas da Vale autorizaram a empresa, em reunião do conselho, na última sexta-feira, a acelerar os investimentos na Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), no Rio, na Companhia Siderúrgica do Pecém (CPS), no Ceará, na Companhia Siderúrgica Ubu (CSU), no Espírito Santo, e no projeto de Aços Laminados do Pará (Alpa). Juntos, estes projetos somam investimentos de US$14 bilhões.

A insatisfação do governo é tanta com o comportamento do setor, que, uma das alternativas em estudo, é taxar as exportações de minério em 5%, forçando uma redução das vendas externas e um redirecionamento do produto para o mercado interno. Não está descartada, como já chegou a admitir o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, a ampliação da cobrança dos royalties sobre a mineração.

Investimento para 2010 está abaixo do período pré-crise

Por enquanto, a polêmica em torno da saída de Agnelli do comando da Vale estaria superada. Assessores de Lula garantem que o clima não estava tão ruim como mostrou o noticiário, mas a amplificação do conflito acabou agradando ao governo, pois teria forçado a mineradora a rever seus planos de investimentos. Em meio a tiroteio e ameaças veladas de troca do comando da empresa, a Vale reviu os planos para 2010, ampliando em 30% os investimentos em relação a este ano.

Mas ainda não vai ser neste encontro que Lula vai ouvir de Agnelli a notícia de que o nível de investimentos da Vale vai retornar ao patamar pré-crise. O plano de investimento para 2010 é algo próximo de US$12 bilhões. Antes da crise, a Vale havia previsto investimentos de US$14 bilhões. Com a turbulência e a consequente retração do mercado mundial, sobretudo o chinês e europeu, a Vale acabou reduzindo os planos em US$5 bilhões este ano.