Título: Lula ataca o crime: Vamos limpar a sujeira
Autor: Gomes, Wagner; Barbosa, Adauri Antunes
Fonte: O Globo, 20/10/2009, Rio, p. 13

Já ministro Gilmar Mendes, do Supremo, defende plano nacional para combater ´guerrilha` nas favelas cariocas

A GUERRA DO RIO: Presidente sugeriu a criação de um conselho para combater o narcotráfico na América do Sul

SÃO PAULO e BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu ontem que vai ¿levar um tempo¿ para que a violência do crime organizado sejam resolvida no Rio ou em qualquer outro lugar do país. Lula lembrou que o governo estadual está investindo em reurbanização de favelas e numa ação policial forte, além de investir em cultura e educação.

¿ Estamos dispostos a fazer o sacrifício que for necessário para limpar a sujeira que essa gente impõe ao Brasil. Há tantas coisas boas no Brasil, tanto trabalhador honesto, e meia dúzia de pessoas que criam uma imagem negativa e vitimam inocentes.

Em conflitos como esse quem paga são os inocentes ¿ disse o presidente sobre os confrontos no Rio, durante um encontro empresarial Brasil/Colômbia, na Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp).

Gilmar: ¿Temos que repensar a segurança¿

Em Brasília, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, defendeu ontem a instituição de um plano nacional de combate ao crime organizado para que o país possa superar a ação violenta de traficantes. Em entrevista ao ¿Jornal Nacional¿, da Rede Globo, Gilmar classificou a ação do último fim de semana no Rio como típica de ato de guerra ou guerrilha.

¿ Acredito que temos que repensar essa questão da segurança pública, encerrando esta visão de que este é um tema apenas local, das autoridades dos estados. O crime organizado, por definição, é um crime nacional ou transnacional, como tráfico de drogas e outros crimes correlatos. É preciso, portanto, que haja uma articulação e um plano nacional, ou mesmo transnacional, para o seu efetivo combate ¿ disse o ministro.

Gilmar considerou gravíssimo o episódio ocorrido no último fim de semana no Rio e comparou a situação a uma guerra: ¿ É um fato extremamente grave, que sugere uma ação de guerra ou de guerrilha. Temos que tomar todas as medidas necessárias para enfrentar esse estado de coisas no Rio e em outros lugares do Brasil.

Daí a necessidade de discutirmos esse arcabouço institucional que envolve todas as forças, o governo federal, estaduais, o Judiciário, Ministério Público, nesse grande esforço.

Essa é uma questão que realmente deve ser prioritária para o Brasil.

O ministro acrescentou que, para combater a ação de traficantes, é necessário fortalecer e aparelhar melhor a justiça criminal. Ele ressaltou que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), também presidido pelo ministro, recomendou recentemente que se dê prioridade ao julgamento de processos criminais ¿ especialmente os homicídios intencionais, casos de competência dos tribunais do Júri.

¿ Nós estamos recomendando que haja prioridade não só nos processos do Júri, mas nos processos criminais como um todo. Isso realmente é um tema de segurança pública ¿ afirmou.

Em São Paulo, o presidente Lula se disse contra a legalização das drogas como forma de combater a criminalidade. Segundo ele, o consumo liberado não vai resolver o problema do narcotráfico. O presidente defendeu que países ricos apliquem uma política mais rígida contra o uso de drogas, para que o comércio ilegal seja combatido.

¿ A cada dia há uma sensação de causa perdida, mas não se pode desanimar ¿ afirmou Lula, acrescentando que sugeriu ao presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, a criação de um conselho para combater o narcotráfico na América do Sul. De acordo com ele, isso daria ao continente autoridade moral para pedir aos países ricos medidas de combate ao uso de drogas.

Já a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, disse em Araraquara (SP) que os recentes episódios de violência no Rio mostram o ¿quanto faltou o Estado¿ nas favelas.

¿ A presença do Estado brasileiro nessas áreas é fundamental.

Não só a presença da polícia, que é fundamental também, mas a gente tem que perceber que o Estado tem que aparecer não só na hora que tem crises como essa ¿ disse Dilma, que passou a citar inúmeras obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que estão sendo feitas no Rio, especialmente no Morro do Alemão, na Rocinha, no Pavão-Pavãozinho e em Manguinhos.

Estamos dispostos a fazer o sacrifício que for necessário para limpar a sujeira que essa gente impõe ao Brasil. Há tantas coisas boas no Brasil, tanto trabalhador honesto, e meia dúzia de pessoas que criam uma imagem negativa e vitimam inocentes. Em conflitos como esse quem paga são os inocentes.

Presidente Lula

Temos que repensar a questão da segurança pública, encerrando a visão de que este é um tema apenas dos estados. O crime organizado, por definição, é um crime nacional ou transnacional.

Gilmar Mendes, presidente do STF