Título: Juiz vestido de fiscal
Autor: Alves, Renato
Fonte: Correio Braziliense, 01/06/2009, Cidades, p. 17

Na região de Anápolis, a 160km de Brasília, policiais rodoviários e comissários da infância se encontram a cada 15 dias para uma blitz em motéis, bares e bordéis à beira das três rodovias que cruzam a cidade de 320 mil habitantes (BR-060, BR-414, BR-153). As operações em conjunto começaram em 2006. ¿Na época, era só irmos à estrada para fazer flagrantes. Eram vários por dia. Com o passar do tempo, eles foram diminuindo. Nos daremos por satisfeitos quando não encontrarmos nenhuma menina em situação de risco¿, comentou o juiz Carlos Limongi, da Vara da Infância e da Juventude de Anápolis.

Pai de uma menina de 3 anos e um menino de 10, o magistrado participa de muitas operações. Quando isso ocorre, em vez do terno e da gravata, veste o colete preto e se mistura aos comissários para dar respaldo à fiscalização. ¿Gosto de ir junto para apoiá-los e identificar alguma falha¿, explica Limongi. A participação dele é elogiada pelos patrulheiros. ¿É um juiz presente e atuante. Quando precisamos, ele emite logo mandados de busca e apreensão, por exemplo. Isso facilita e respalda nossas ações¿, observou o inspetor Júlio César Ferreira, chefe da delegacia da PRF em Anápolis.

Essas operações também são acompanhadas por representantes do Centro de Referência Especializada em Assistência Social (Creas), do governo federal. ¿É um trabalho árduo, mas que tem dado resultado. Hoje, somos bem recebidos pelos donos de motéis, que têm seguido a orientação de pedir a identidade de todos os clientes¿, destaca Andréa Lins, socióloga do Creas em Anápolis.

Andréa, no entanto, não esquece de cada caso de violência sexual que presenciou. O pior, segundo ela, envolveu uma menina de 12 anos, flagrada no motel mais caro da cidade, à margem da BR-060, com um homem com mais de 40 anos e casado. ¿E ela era amiguinha da filha dele¿, ressalta. (RA)