Título: Aécio cobra decisão do PSDB, e Serra reage
Autor: Fabrini, Fábio; Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 21/10/2009, O País, p. 8
Cúpula do partido dá prazo até dezembro para que haja definição sobre quem será o adversário de Dilma
SÃO PAULO, BELO HORIZONTE e BRASÍLIA. O governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), não esconde mais sua divergência com o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), sobre o momento de definir a candidatura do PSDB à Presidência e aumentou a pressão sobre o partido em busca de uma definição.
Perguntado se o grupo paulista estaria atrasando a decisão sobre o nome que vai enfrentar a ministra Dilma Rousseff (PT), assumiu ter posição diferente: ¿ O Serra gostaria (da definição) um pouco mais para a frente.
Mas vamos chegar num entendimento ¿ disse Aécio, no Palácio da Liberdade.
Na véspera, Aécio jantou com o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra, e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em São Paulo. Levou a eles um pedido para que a definição seja em janeiro, e não março, como pretende o grupo de Serra. O governador paulista não foi ao jantar na casa de Fernando Henrique.
Conversou com os correligionários por meio de um telefone viva-voz. Segundo a assessoria de imprensa do Palácio Bandeirantes, o governador tinha outros compromissos públicos anteontem.
É consenso entre Serra e Aécio que o nome do candidato não seja anunciado este ano. O objetivo é esperar que a direção nacional acerte alianças nos estados.
Porém, Aécio teme que a demora comprometa o acerto com partidos como o PR, o PP e o PDT, que são da base do presidente Lula, mas poderiam se alinhar à sua candidatura.
Tempo de TV em novembro será dividido entre os dois Aécio negou ter feito imposições no jantar, mas deixou claro que, se o impasse sobre a candidatura se estender, seu projeto pode ser prejudicado.
¿ Até janeiro é um bom momento para que ele (o projeto presidencial) seja construído.
Temo que, daí por diante, possamos chegar um pouco atrasados.
Eu ouvi do Sérgio Guerra que gostaria até de ter uma decisão antes de janeiro.
Pressionada por Aécio e por setores do DEM, a direção do PSDB deu prazo até dezembro para que Aécio e Serra cheguem a um acordo. No jantar, a cúpula tucana também decidiu dividir entre os dois presidenciáveis o tempo dos programas de TV que vão ao ar em novembro, e liberar Aécio para viajar pelo Brasil para encontros com setores de fora do partido.
¿ Aécio deixou claro que é candidato e vai perseguir seus objetivos. Vamos trabalhar para que os dois se entendam até dezembro ¿ afirmou Guerra.
Guerra não adiantou os passos seguintes. Aécio propõe que, em caso de divergência, o partido consulte um colegiado.
Para pressionar Serra a adiantar a decisão, aliados do mineiro têm dito que ele vai se lançar ao Senado em janeiro. Isso deixaria Serra com a obrigação de se candidatar à Presidência. Serra cogita a possibilidade de disputar a reeleição ao governo.
Aécio conta com o apoio de parte do DEM, que tem defendido abertamente sua candidatura e pressionado o PSDB a adiantar a definição. O presidente do DEM, Rodrigo Maia (RJ), já disse que Aécio é melhor candidato do que Serra e cobrou decisão até o final do ano.
Em Brasília, numa contraofensiva, Serra passou o dia em articulações políticas. Em reuniões com dirigentes tucanos e do DEM, reiterou que não pretende antecipar a candidatura, mas assumiu compromisso de operar nos bastidores para resolver problemas dos palanques estaduais. O impasse nos estados tem sido o motivo do aumento da pressão.
O líder do DEM no Senado, José Agripino (RN), entrou em campo, como bombeiro, para acabar com o mal-estar provocado pelas declarações de Rodrigo Maia, que manifestou apoio a Aécio. Agripino ligou para Serra e esteve com ele, logo após o governador assistir à posse do novo ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), José Múcio. E disse que o partido apoiará qualquer candidato do PSDB.
¿ Foi uma conversa fraterna para repor a ordem, corrigir mal-entendidos e equívocos. Se não puder haver elogio entre aliados, censura não pode ter. O que queremos é ter êxito em 2010. Eventuais divergências são circunstanciais e não se sustentam ¿ afirmou Agripino.
Ao final da posse no TCU, Serra disse que não entraria em polêmicas sobre as visitas de Lula e Dilma a obras do PAC.
Sobre a reclamação de que o PSDB estaria adiando a definição de candidatura, disse: ¿ Falar em adiamento supõe que existia um prazo estabelecido para se fazer essa definição.
Como o prazo não existe, não tem adiamento nenhum
COLABOROU: Maria Lima