Título: CNBB defende Cristo após declaração de Lula
Autor: Vasconcelos, Adriana; Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 23/10/2009, O País, p. 5

Presidente diz que, para governar, Jesus faria acordo com Judas; Dom Dimas contesta: "Cristo não fez aliança com fariseus"

e Gerson Camarotti

BRASÍLIA. A explicação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para justificar a ampla aliança de partidos com seu governo provocou críticas da oposição, constrangimento entre aliados e foi contestada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Em entrevista à ¿Folha de S.Paulo¿, Lula disse que ¿se Jesus Cristo viesse para cá, e Judas tivesse votação num partido qualquer, Jesus teria que chamar Judas para fazer coalizão¿.

O secretário-geral da CNBB, Dom Dimas Lara Barbosa, reagiu dizendo que Cristo não fez aliança com fariseus.

Primeiro, quando perguntado sobre a afirmação de Lula, de que, para governar o Brasil, Jesus teria que fazer aliança com Judas, Dom Dimas reagiu: ¿ Para governar o Brasil? Estamos tão mal assim? Depois, acrescentou: ¿ Judas foi um discípulo de Cristo. Cristo conhece o coração das pessoas e respeita a liberdade de cada um. Agora, Cristo não fez aliança com os Fariseus, com os Saduceus.

Pelo contrário, teve palavras muito duras para com eles.

Dom Dimas esclareceu que não estava se referindo a nenhum partido político, mas aproveitou para defender o projeto de lei encabeçado pela CNBB ¿ que recebeu 1, 3 milhão de assinaturas ¿ para impedir que pessoas processadas na Justiça possam candidatar-se nas eleições. Indagado se o PMDB, principal aliado de Lula, tem os fariseus a quem se refere Lula, Dom Dimas respondeu: ¿ Não estou entrando em detalhe de partido nenhum aqui.

Fariseus na Bíblia eram aquelas pessoas que por fora eram uma coisa, por dentro outra. Não estou me referindo a nenhum partido.

Acho que tem gente de bem em todos os partidos e também em todas as áreas.

Ele defendeu o projeto: ¿ A coisa pública, o trabalho com o erário exige um mínimo de ética. É por isso que queremos que pessoas com pendência na Justiça não possam sequer ser candidatas antes de limpar a sua própria ficha.

No Congresso, a oposição criticou a declaração de Lula.

¿ Os aliados do presidente devem ficar ofendidos, pois foram comparados a Judas. O fato é que o pragmatismo do presidente foi exposto. O importante são os fins, e não interessam os meios ¿ disse o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM).

¿ A primeira aliança do presidente foi com o mensalão ¿ emendou o líder do DEM no Senado, José Agripino (RN).

Na entrevista, perguntado sobre a aliança com políticos sob suspeita, como os peemedebistas José Sarney (AP), Jader Barbalho (PA) e Renan Calheiros (AL), além de Fernando Collor (PTB) e o ex-petista Delúbio Soares, Lula fez a comparação com Judas e, depois, disse que ¿não tem relação de amizade, mas relações institucionais¿ e que ¿essas pessoas ganharam eleições e exercem seus mandatos¿.

Sarney, Collor e Jader evitaram comentários e a cúpula do PMDB tentou minimizar o episódio.

Renan disse que a aliança entre petistas e peemedebistas está no melhor momento. E que as alianças são feitas entre os contrários. O deputado Henrique Alves (RN), ficou surpreso: ¿ Não entendi bem o significado (das palavras) do presidente Lula. Vou ler melhor. Tem que fazer um governo de coalizão, em que muitas vezes você escolhe os parceiros e, em outras, por necessidades estratégicas, você não pode escolher.

São os parceiros possíveis, mas dentro do limite ético que tem norteado o governo Lula.

Já o líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP), ressaltou que o Judas foi aliado de Jesus. Mas disse que o PMDB é um aliado fiel e não trairá Lula: ¿ Lula não fez referência a ninguém. O PMDB é aliado fiel, leal, que contribuiu para o governo e vai contribuir para a vitória de Dilma. Não há traições

COLABOROU: Cristiane Jungblut