Título: Dilma defende suas viagens ao lado de Lula
Autor: Farah, Tatiana
Fonte: O Globo, 26/10/2009, O País, p. 4

Ministra diz que ajudou a criar principais projetos do governo e que não entende por que não pode apresentá-los

SÃO PAULO. A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, defendeu ontem sua presença em inaugurações de obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e reivindicou a maternidade dos principais projetos do governo, como o próprio PAC, o programa Minha Casa, Minha Vida e o pré-sal. A maratona de eventos da ministra ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem sido fortemente criticada pela oposição, que a acusa de antecipar a campanha eleitoral, mas Lula já avisou que as viagens continuarão.

- Eu não caí do céu e apareci lá na Casa Civil, não. Estou lá desde 2005. Do Minha Casa, Minha Vida, por exemplo, eu participei diretamente. Eu não entendo por que é que eu não posso (viajar). É um preconceito contra a mulher, isso, hein? Eu posso ir para a cozinha, cozinhar o projeto, e, na hora de servir na sala, nem ver?

A ministra fez a declaração na saída de um colóquio organizado pelo PT em São Paulo com cerca de 60 grupos de movimentos sociais de todo o país para buscar mais diálogo com o governo e o partido.

- Outro dia a gente lançou o pré-sal. Ninguém desconhece que eu coordenei o pré-sal, a elaboração dos quatro projetos de lei. Inclusive posso até me queixar do retrato [na revista sobre o tema], que eu tava feia que era um horror. Mas botaram lá. E o PAC? Olha, o que eu sofri com esse PAC, vocês sabem disso. Eu sofri e sofro, cada vez menos. Vocês falavam para mim: o PAC está só no papel, e eu dizia "quem dera". Quando eu cheguei não tinha nem papel porque não tinha projeto. Eu participei, eu ajudei a fazer, eu não posso ir olhar? Eu não posso participar da inauguração?

Dilma afirmou que ainda não discutiu com o partido nem com o presidente se sairá do governo em fevereiro, como defendem os petistas, ou em abril, quando expira o prazo para deixar o cargo. O PT quer que a ministra saia em fevereiro, assim que for escolhida candidata à sucessão, depois da convenção do partido, e use seu tempo livre para se aproximar da militância.

Integrantes do governo defendem que Dilma fique até 3 de abril para aproveitar o espaço político e a vitrine ao lado do presidente. Fontes próximas de Lula afirmam que ele estaria inclinado a apoiar a opinião do partido.

O colóquio organizado pelo PT colocou frente a frente líderes dos movimentos sociais e representantes do governo. No sábado, o líder sem-terra João Paulo Rodrigues fez duras críticas a Lula, afirmando que o presidente perdeu a chance de fazer a reforma agrária, e disse que os sem-terra não se identificam com Dilma. Perguntada pelos jornalistas se tinha identidade com os movimentos sociais, Dilma respondeu:

- Sou do governo, me identifico com o governo. Não sou trabalhador da terra, nem tenho pretensão a ser, como não sou membro de nenhum sindicato, como bancário nem metalúrgico, como não sou população indígena. Em tese, me identifico com todos eles, porque todos eles têm base.

A ministra afirmou que, apesar dos embates entre os movimentos sociais e o governo, acredita no entendimento.

- Tanto os movimentos sociais como o povo brasileiro vão saber nos momentos importantes, na hora H, quem é que está a favor deles e quem não está.

Para ministra, movimento social não é caso de polícia

Segundo Dilma, o apoio aos movimentos sociais não impede o governo de criticar ações como a do MST na fazenda da Cutrale, no interior de São Paulo.

- Nós aceitamos e mantemos um diálogo com os movimentos sociais. Isso não significa de maneira nenhuma que vamos apoiar qualquer ato ilegal que se praticar. Mas também não concordamos com a tradição conservadora do país de tratar movimento social como caso de polícia.

O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini, afirmou que a aliança petista com o PMDB é ainda um pré-compromisso e que os dois partidos têm dificuldades não só em São Paulo, mas em outros seis estados.

- A proposta tem o nome de pré-compromisso, o próprio nome já explica. É um protocolo com termos claros para chegar à convenção do PT e do PMDB no ano que vem em condições de firmar uma aliança partidária programática. Até lá, é trabalho, trabalho e trabalho. Sem nada garantido só porque assinamos um compromisso que é pré-compromisso.