Título: Prefeito,é detido com crack em MG
Autor: Carvalho, Ana Paula de
Fonte: O Globo, 27/10/2009, O País, p. 3

Flagrado em boca de fumo pela segunda vez, petista se licencia para tratamento de saúde

O PREFEITO de Raposos (MG), João Carlos da Aparecida, com policial: Câmara abrirá processo de cassação

BELO HORIZONTE. Depois de flagrado duas vezes em bocas de fumo, uma delas com pedras de crack, o prefeito de Raposos (MG), João Carlos da Aparecida (PT), pediu ontem licença do cargo por 180 dias. Em declaração encaminhada à Câmara Municipal, ele informou que o afastamento é para tratamento de saúde. À noite, os vereadores da cidade de 14,3 mil habitantes, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, se reuniram para dar posse ao vice-prefeito, Nélcio Duarte (PT).

João Carlos foi preso na tarde de domingo, próximo a uma das maiores favelas da capital mineira, a Pedreira Prado Lopes, com três pedras de crack e um cachimbo. Policiais do Batalhão de Rondas Táticas Metropolitanas (Rotam) receberam, por denúncia anônima, a informação de que alguém, num Fiat Uno cinza, traficava drogas na Rua Gama, no bairro Bonfim. O acompanhante do prefeito conseguiu fugir. Os PMs apuraram que ele havia chegado ao local na véspera e passado pelo menos 12 horas rodando entre bares e casas de travestis.

Levado à delegacia, João Carlos mal conseguia falar e ficar de pé. Sentado num banco, vez ou outra cochilava. De acordo com policiais, ele contou que passara a noite fumando crack com um travesti. Alegou que está com problemas pessoais e que é dependente químico.

¿ Não tenho condições de falar porque tomei um medicamento muito forte. Faço uso de antidepressivo ¿ justificou a repórteres.

Depois de sete horas na delegacia, o prefeito assinou termo alegando não ter condições de prestar depoimento e foi liberado. Passou a noite no setor de toxicologia do Pronto-Socorro João XXIII e, ontem, seguiu para um hospital psiquiátrico na Região Oeste de Belo Horizonte. Pressionado pelos nove vereadores da cidade, assinou o pedido de licença enquanto recebia atendimento médico. Nos próximos dias, uma comissão para levar adiante o processo de cassação do prefeito deve ser nomeada na Câmara. Na internet, já circulam manifestações pelo impeachment.

Procurada, a prefeitura não se pronunciou sobre o caso.

João Carlos, engenheiro civil, tem 45 anos, mora com a mãe em Raposos e está no primeiro mandato como prefeito. Funcionários do município contam que, nos últimos meses, ele já não aparecia regularmente na prefeitura. Recentemente, assinou decreto dando ao seu chefe de gabinete, Hudson Leal, poderes para tocar licitações, contratações e nomeações. Denunciado à Procuradoria Geral de Justiça, teve de recuar e anular os atos do auxiliar.

Na madrugada de 27 de março, o petista já havia sido abordado por policiais próximo a uma boca de fumo da Pedreira. Ele estava num carro da prefeitura por volta das 2h30m, acompanhado de um homem que tem passagem pela polícia por furto. Câmeras de segurança da PM registraram as imagens. Como não foram apreendidas drogas, a dupla foi liberada depois de registrado um boletim de ocorrência. A Câmara instaurou uma comissão, mas o prazo de 90 dias para investigações terminou antes que a polícia enviasse cópias do documento e das imagens.

¿ A situação chegou ao insustentável. A população está revoltada e envergonhada. Nas ruas, o caso virou chacota e é um péssimo exemplo para os jovens ¿ reclama o vice-presidente da Câmara de Vereadores, Delcídio Maycon de Araújo (PDT).

Ele acrescenta:

¿ Usuários de drogas flagrados desafiam os PMs da cidade. Dizem que, se o prefeito pode, todos podem.