Título: Crack: 200 mil pedras apreendidas só este ano
Autor: Braga, Ronaldo
Fonte: O Globo, 27/10/2009, Rio, p. 13

`Finalmente consegui internar meu filho¿, diz o pai de Bruno Kligierman, músico viciado que matou a namorada

PEDRAS DE crack apreendidas pela polícia numa favela de Realengo

Do início do ano até o fim do mês passado, foram apreendidas cerca de 200 mil pedras de crack no Rio, segundo policiais da Delegacia de Combate às Drogas (Dcod). De acordo com o levantamento, a maior parte da droga é vendida nas favelas do Jacarezinho e de Manguinhos ¿ pelo menos 50% do faturamento mensal do tráfico nessas duas comunidades vêm das pedras. Antes vendido apenas por uma facção criminosa, o crack hoje também pode ser encontrado em bocas de fumo de outras quadrilhas. Ontem, agentes da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) apreenderam cinco mil pedras na Favela 77, em Realengo.

O titular da DHBF, Ricardo de Souza, disse que o objetivo era prender traficantes que estariam remetendo drogas para comunidades da Baixada e seriam suspeitos de homicídios na região. Carlos Alberto de Melo, de 25 anos, apontado como ¿gerente¿ do tráfico, foi preso. Além das pedras, a polícia apreendeu radiotransmissores, cocaína e anotações com a contabilidade dos criminosos.

O produtor cultural Luiz Fernando Prôa, pai de Bruno Kligierman de Melo, de 26 anos, músico viciado em crack que no sábado matou a estudante Bárbara Calazans, de 18, no Flamengo, afirmou ontem que seu filho tem síndrome do pânico. Sua última internação foi em maio passado, quando ficou 15 dias na reabilitação. Segundo policiais da Polinter em Neves, São Gonçalo, onde o músico está preso, o primeiro dia de Bruno na cadeia foi calmo. Ele passou boa parte do tempo conversando com outros detentos. O músico foi indiciado por homicídio, cuja pena é de 20 anos de reclusão.

¿ Finalmente eu consegui internar meu filho. A consequência é que a vida dele acabou. E tem um agravante: ele tem síndrome do pânico, está há três dias sem tomar medicamento, não consigo fazer que chegue o medicamento. Em uma sala lotada de Polinter, ele vai surtar, ou vai matar ou vai morrer ¿ afirmou o pai do músico, em entrevista ao ¿RJTV¿.

Foi Luiz Fernando quem levou a polícia ao apartamento do filho, no Flamengo, para prendê-lo. Ele disse que, até agora, não falou com a família de Bárbara.

O governador Sérgio Cabral disse ontem que o estado tem clínicas que atendem viciados e apoia entidades religiosas que trabalham com usuários:

¿ Compreendo que o pai nesse momento merece todo nosso respeito e, sobretudo, a família da vítima. Esse caso demonstra aonde a droga pode levar uma pessoa.

O prefeito Eduardo Paes disse que, na semana passada, teve um encontro na Secretaria de Assistência Social para tratar de projetos de combate ao crack. No início do mês, o secretário de Assistência Social, Fernando William, anunciou que, em 30 dias, a cidade passaria a contar com uma estrutura de atendimento à criança e ao adolescente viciados em crack. Segundo ele, serão criadas 60 vagas para internação em clínicas mantidas pela iniciativa privada.

Outro passo seria a abertura de um centro de acolhimento próximo à área conhecida como cracolândia, em Manguinhos. O espaço será chamado de Embaixada da Liberdade. Segundo Fernando William, 80% dos cerca de 450 meninos de rua são dependentes de crack. Outras duas mil crianças e adolescentes de comunidades carentes também seriam viciadas.