Título: Necessária
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Fonte: O Globo, 24/10/2009, Opinião, p. 6

A polêmica envolvendo pesquisa encomendada pela CNA ao Ibope estimula um falso debate com a intenção de desqualificar a reforma agrária no Brasil. De um universo de 8.360 assentamentos e cerca de um milhão de famílias, somente nove comunidades foram analisadas. De acordo com o próprio Ibope a pesquisa atuou em ¿um universo bastante específico¿ que não se constitui numa amostra confiável. Fica evidente a intenção de gerar um noticiário dirigido à conclusão de que a reforma agrária não é necessária ao país.

Ao contrário, afirmo que a reforma agrária é necessária e continua atual no contexto da construção de um novo padrão de desenvolvimento sustentável para o país. Sua principal função é promover a cidadania, dar condições dignas de vida e diminuir desigualdades no meio rural. E os assentamentos produzem.

Se tomarmos como exemplo a VI Feira da Agricultura Familiar e Reforma Agrária, 82 empreendimentos presentes (cerca de 10% dos expositores) vinham de assentamentos.

É o caso do empreendimento Capim Dourado do Jalapão (TO), que produz artesanato, bolsas, bijuterias e foi um dos sucessos de venda na feira. Outro exemplo: o assentamento Nhundiaquara, com 145 famílias em Morretes (PR), exporta alimentos orgânicos certificados para a União Europeia há anos. Há assentamentos que industrializam a produção, como o de Lagoa do Junco, em Tapes (RS), onde a cooperativa construiu uma unidade de beneficiamento de arroz orgânico, comercializa para os municípios da região metropolitana de Porto Alegre e tem uma padaria que fornece pães para a merenda escolar no município, o que demonstra como é possível integrar economia local às atividades produtivas das famílias assentadas.

Cerca de 70% dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros são produzidos pela agricultura familiar.

O censo agropecuário 2006 do IBGE vai permitir o cruzamento das informações declaradas com os dados do Incra de localização dos assentamentos.

A partir disso, será possível mapear a contribuição das comunidades na produção dos alimentos para a população brasileira, uma das principais características econômicas deste segmento.