Título: Ameaça dos partidos esquecidos
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 31/05/2009, Política, p. 8

Enquanto os petistas priorizam os acordos com os peemedebistas, integrantes de legendas menores da base de sustentação do governo Lula demonstram insatisfação e encenam uma debandada política. Luciano Castro, do PR: ¿É um erro. O PT deveria fazer uma conversa global com os aliados¿

Dornelles, presidente do PP: reunião para definir estratégia Apesar de aprovarem a estratégia do PT de priorizar as conversas com o PMDB, os aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva fazem ameaças de que, se não forem bem tratados, têm opções diferentes para a eleição de 2010. Todo o tipo de cenário é traçado: candidatura própria, caminhar sem aliança e até apoiar um candidato da oposição. PDT, PP, PR, PCdoB, PTB, PSB compreendem que o PT não pode medir esforços para se aliar com o PMDB. Tudo deve ser feito para não deixar a maior legenda do país no colo do PSDB, que tem dois pré-candidatos a presidente, os governadores de São Paulo, José Serra, e de Minas Gerais, Aécio Neves.

As ameaças não significam que haverá uma debandada na base aliada, cada um fazendo o que bem entender, deixando o xadrez de 2010 ainda mais confuso. Os líderes das legendas menos prestigiadas ainda apostam que serão convocados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a conversa definitiva. Enquanto isso não acontece, cada um joga com a arma que tem.

O PR, legenda que apoiou o petista em 2002 quando ainda era Partido Liberal , indicando o vice José Alencar, é o mais incomodado com a estratégia. ¿É um erro. O PT deveria fazer uma conversa global com os aliados¿, afirmou o deputado Luciano Castro (RR). A arma para ser lembrado pelo PT? A proximidade da bancada com Aécio, com quem recentemente teve um encontro. ¿A nossa prioridade é fazer uma eleição de uma grande bancada a partir de 2010, de modo que o próximo governo, seja ele qual for, vai ter que governar com o PR¿, disse Castro. ¿A bancada tem uma relação bastante próxima com o governador Aécio¿, acrescentou.

O PP, por sua vez, é o partido mais confortável no atual quadro político. O presidente da legenda, senador Francisco Dornelles (RJ), fará reunião em 2 de julho entre os diretórios estaduais para saber o que eles almejam na eleição presidencial. Satisfeito em ocupar o Ministério das Cidades, com Márcio Fortes, há uma tendência pró-Dilma Rousseff na legenda. ¿Primeiro, quero saber e conhecer a posição do PP. Antes de saber, é difícil falar de estratégia. Fato é que temos um bom relacionamento com o governo e com o PT¿, disse o senador.

O cientista político e sociólogo da Universidade Federal do Rio de Janeiro Paulo Bahia explica que o voraz interesse pelo PMDB deve-se à capacidade do partido de levar a mensagem de um candidato aos rincões mais afastados do país. ¿O PMDB é o partido da capilaridade¿, disse Bahia.

Na zona cinzenta, estão PDT, PSB, PCdoB e PTB. O PSB não desistiu de lançar o deputado Ciro Gomes (CE) na disputa, apesar das resistências do presidente da legenda e governador de Pernambuco, Eduardo Campos. O partido ainda espera ser convidado para uma conversa com Lula e definir sua estratégia. ¿O presidente Lula ainda não nos chamou para uma conversa. Queremos saber o que ele quer, se ele quer ir só com a Dilma ou topa dois candidatos¿, disse o deputado Márcio França (SP), tesoureiro dos socialistas. A arma do PSB? A ironia: ¿Lógico que a gente não descarta uma aliança com o PT, acharíamos ótimo ela (Dilma Rousseff) de vice do Ciro Gomes¿. O governador pernambucano não gostaria de lançar o PSB sozinho na eleição presidencial e preferiria a aliança com o PT. Segundo aliados, ele não está tranquilo em relação à reeleição no cargo e precisaria do apoio dos petistas desde o primeiro turno.

E esse é o mesmo pensamento do PCdoB. Os comunistas fazem parte do bloco de esquerda ao lado do PSB, preferem aliar-se ao PT desde o primeiro turno, mas ainda aguardam a definição de Lula. ¿O bloco está em conversa. Temos alguns candidatos, como o Ciro Gomes, e também a opção de nos aliarmos com o PT¿, disse o senador Inácio Arruda (CE). ¿O PT não pode largar o PMDB. Mas ele não deve priorizar e fazer de conta que os outros não existem¿, acrescentou o comunista cearense.