Título: CPI do MST: ruralistas do PMDB cobram vaga
Autor: Franco, Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 24/10/2009, O País, p. 12

Líder do partido concorda com reivindicação; governo pode perder ampla maioria que manteria comissão sob controle

BRASÍLIA. Os planos do governo para controlar a CPI do MST devem esbarrar na oposição de boa parte da bancadado PMDB, o principal partido aliado do Palácio do Planalto no Congresso. Dono da maior bancada na Câmara e no Senado, o PMDB já admite ceder parte de suas vagas na CPI a parlamentares ruralistas do partido, que não escondem a antipatia pelo MST e condenam o repasse de verbas federais a entidades ligadas ao movimento. Com isso, a tendência é que parte do PMDB se alie à oposição nas críticas aos sem-terra e ao Ministério do Desenvolvimento Agrário.

Pressionado pelos ruralistas, o líder peemedebista na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (RN), adiantou ontem que já decidiu indicar representantes do agronegócio para integrar a CPI.

¿ O segmento ruralista é muito forte no PMDB e já pediu parte das cadeiras. Não teremos preconceito contra os colegas que representam o agronegócio ¿ afirmou.

Os ruralistas exercem grande influência sobre a bancada do PMDB. A força do grupo é maior na Região Sul, berço do MST. Lá foram eleitos o ministro da Agricultura, o deputado licenciado Reinhold Stephanes (PR), e o atual presidente da Frente Ruralista, deputado Valdir Colatto (SC). Desafeto do MST, o catarinense disse que o líder do partido já prometeu uma das vagas a ele.

¿ Vamos lutar pelo nosso espaço.

O PMDB precisa indicar quem conhece e atua no setor.

Seria ridículo dar as vagas a quem não tem nada a ver com o agronegócio ¿ disse Colatto.

Se for confirmado na CPI, o deputado promete combater duramente o repasse de verbas do Ministério do Desenvolvimento Agrário a entidades ligadas aos sem-terra: ¿ Todo mundo sabe que o núcleo ideológico do PT é socialista e está concentrado no Desenvolvimento Agrário. O Incra está nas mãos do MST, e os assentados estão virando funcionários públicos rurais.

Poucos sobreviveriam sem dinheiro da União ¿ criticou.

O senador Neuto de Conto (PMDB-SC), ex-presidente da Comissão de Agricultura do Senado, é outro que promete incomodar os sem-terra. Como O GLOBO informou ontem, outros dois senadores peemedebistas, Valdir Raupp (RO) e Valter Pereira (MS), são considerados votos certos contra o MST caso sejam indicados.

¿ Apoiei a criação da CPI porque a maioria dos assentamentos hoje parece favelas rurais. A agricultura familiar que dá resultados é a dos proprietários , não ados sem-terra ¿ disse o senador Neuto de Conto.

Aliado dos sem-terra, o deputado Dr. Rosinha (PT-PR) defende que o Planalto pressione o PMDB para barrar a indicação dos ruralistas.

¿ O PMDB é aliado. Tem que ter responsabilidade e indicar quem concorda com a estratégia do governo.

Apesar do temor dos petistas, o líder Henrique Eduardo Alves disse que o governo não deve se preocupar com a indicação de ruralistas: ¿ A CPI não é contra o governo Lula e não pode virar palanque eleitoral.