Título: Economia sólida e câmbio explicam avanço
Autor: Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 27/10/2009, Economia, p. 19

Carneiro, da Unicamp, alerta para risco de bolha. Para Langoni, da FGV, alta é ajuste

A valorização de 121,11% da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) reflete o bom momento da economia brasileira, o excesso de dinheiro no mundo depois das injeções de recursos dos tesouros dos países em crise e à desvalorização do dólar no mundo inteiro, dizem especialistas. Mas não há consenso dos que acompanham esse mercado sobre as consequências dessa alta espetacular:

- Qual investimento rende 100% ao ano? Tem alguma coisa errada nisso - alerta Ricardo Carneiro, professor do Instituto de Economia da Unicamp.

Para ele, está em formação uma bolha com as ações das empresas que comercializam commodities (matérias-primas). E, quando o governo americano tomar medidas para evitar o derretimento do dólar no mundo, como aumentar seus juros internos, atualmente em zero, "a Bolsa vai desinflar", afirma Carneiro.

Carlos Langoni, diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas (FGV), tem outra opinião. Essa alta é um ajuste, diante da queda forte no preço das ações, logo depois da quebra do Lehman Brothers, em setembro. Passado esse momento de ajuste, a Bolsa tende a ter crescimento mais gradual.

- O Brasil está atraindo muito capital, tem arquitetura macroeconômica sólida, parque industrial diversificado, serviços avançados e recursos naturais invejáveis. Além disso, as empresas em Bolsa têm bom nível de governança.

Para Langoni, o aumento de oferta de ações na Bolsa vai arrefecer o aumento de preços.

Carneiro afirma que as commodities como petróleo e minério de ferro dominam a Bolsa brasileira: em 2001, as ações de petróleo e gás, mineração e siderurgia respondiam por 20% do mercado. No ano passado, havia subido para 32%.

- Um terço da Bolsa é de produtores de commodities. Só a Petrobras responde por 18% da Bovespa - afirma.

Langoni não vê risco de uma bolha se formar no mercado de ações. Os juros ainda altos aqui afastariam esse perigo:

- Esse risco é muito baixo. Apesar de ter juros no menor patamar histórico, a taxa de 4% a 5% ao ano ainda é expressiva para padrões internacionais. A bolsa brasileira passou pelo teste de estresse.

A valorização recente das commodities reflete o forte crescimento chinês. Mesmo assim, a expansão mundial será menor nesse momento pós-crise e isso determinará o ritmo da recuperação, diz Langoni.

Carneiro, porém, diz que o índice de commodities anda junto com o índice da Bolsa. Além da concentração forte dessas matérias-primas, o professor da Unicamp diz que há concentração também na demanda pelos papéis. Os estrangeiros compram 70% dos lançamentos de ações, e 35% do movimento de compra e venda dos papéis já no mercado são feitos por investidores externos:

- O mercado de ações no Brasil é muito pequeno. Qualquer movimento maior tem forte impacto. Foi acertada a medida do governo de taxar o capital estrangeiro.