Título: O preço do PMDB
Autor: Coimbra, Marcos
Fonte: Correio Braziliense, 31/05/2009, Política, p. 8

Enquanto os pesquisadores vão se convencendo que os partidos querem dizer cada vez menos para a vasta maioria das pessoas, políticos e jornalistas parecem pensar o oposto.

Os profissionais de pesquisa política sempre se surpreendem quando veem especulações, nos meios políticos e na imprensa, sobre a ¿força¿ dos partidos nas eleições majoritárias, especialmente nas presidenciais. Hoje, a bola da vez é o PMDB, mas a discussão poderia valer para qualquer outro.

Enquanto os pesquisadores vão se convencendo de que os partidos querem dizer cada vez menos para a vasta maioria das pessoas, políticos e jornalistas parecem pensar o oposto. Para eles, a ¿força¿ dos partidos é um dado inquestionável.

É uma suposição difícil de ser confirmada. Basta reunir um grupo de eleitores típicos, em qualquer lugar do país, pertencentes a qualquer segmento socioeconômico, que o que se ouve é um coro sobre a irrelevância dos partidos como critério para decidir em quem votar, de maneira geral.

Os eleitores brasileiros não pensam assim por convicção ideológica e nem se comprazem com isso. Ao contrário, estão convencidos que melhor seria se pudessem identificar seus candidatos levando em conta os partidos. Os mais velhos se lembram com saudade de épocas em que quase todo mundo tinha uma identidade partidária, em que as disputas eleitorais eram mais que escolhas entre indivíduos.

Quem disse a eles que os partidos não valem nada foi o sistema político. Se pensarmos no que foi feito (e no que deixou de se fazer) nas últimas décadas com o nosso sistema partidário, o extraordinário seria se ele tivesse resistido. Entre golpes de contração excessiva, como o bipartidarismo imposto pelos militares, e golpes de expansão exagerada, como o liberalismo da Constituição de 1988, ele praticamente morreu. Sobraram legendas para todos os gostos, que quase nada querem dizer para o cidadão comum.

Com uma única exceção relevante, o PT. Nas pesquisas atuais, sozinho, ele representa mais da metade das identidades partidárias totais. Sem ele, talvez não chegássemos sequer a um quarto da população com simpatia por um partido.

Não se está dizendo que ninguém se identifica com nenhum outro. Procurando bem, é possível encontrar simpatizantes talvez até de todos. Mas não é tarefa simples.

Pensemos no PMDB, por exemplo. Na mais recente pesquisa nacional da Vox Populi, 5% dos entrevistados disseram ter simpatia pelo partido. Não é um número irrelevante e o coloca ao lado do PSDB como o segundo maior partido brasileiro, em termos do número de simpatizantes. Mas quer dizer exatamente isso: 5%.

Ou seja, uma candidatura presidencial própria ou apoiada pelo PMDB teria esse tamanho potencial. Daí em diante, a sigla seria de pequena ajuda, se é que teria algo a aportar. Isso, na melhor das hipóteses, pois dependeria da oferta de candidatos dos demais partidos. Apenas para especular, podemos imaginar que, se o PT ou o PSDB tivessem bons candidatos aos olhos de alguns peemedebistas, nem todos esses 5% seriam votos certos. O que restaria? Qual seria a contribuição efetiva do partido a uma candidatura petista ou tucana? 4, 3, 2, 1%?

Quanto vale, em número de votos, o apoio do PMDB a um candidato a presidente? Para seus dirigentes, deve ser uma imensidade, pois se sentem, por exemplo, à vontade para exigir do PT que retire seus candidatos a governador ou senador em até 10 estados, em troca do apoio a Dilma. É quase como se se percebessem com o condão de elegê-la.

Se o PMDB conta pouco enquanto partido, talvez suas lideranças façam a diferença, tragam uma contribuição tão relevante que mudem uma eleição. Será? Será que existem, em número significativo, eleitores que esperam que o deputado, o senador, o governador, o prefeito, o vereador do PMDB decidam por eles?

Não há uma só pesquisa que diga que são muitos. Inversamente, há uma montanha de evidências que mostram que, cada vez mais, os eleitores fazem suas opções sem considerar indicações desse tipo. Nas eleições presidenciais, o eleitor sente que pode e deve escolher sozinho.

E quanto vale o tempo de propaganda eleitoral gratuita? Pode não valer nada, como quando Ulysses ou Quércia foram candidatos, ou pouquíssimo, como quando apoiaram Serra. Quem tem tempo suficiente para não passar despercebido, como o PT e o PSDB, ou quem consegue fazer outras alianças, pode viver muito bem sem ele.

O valor do PMDB é grande no governo, enquanto nosso sistema político continuar a ser o que é. Nas eleições presidenciais, é mais difícil estimar se tem algum. Quem quiser comprá-lo pelo que ele acha que vale, que o faça. Afinal, todos são livres para fazer maus negócios.