Título: Mantega condiciona redução de IPI na linha branca a mais contratações
Autor: Rodrigues, Lino; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 27/10/2009, Economia, p. 23

Ministro não garante a empresários prorrogação do benefício, que expira dia 31

SÃO PAULO e BRASÍLIA. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, cobrou ontem de varejistas e fabricantes de eletrodomésticos da linha branca mais contratações de trabalhadores, promoções e facilidades de crédito nas vendas de geladeiras, máquinas de lavar, tanquinhos e fogões, como condição para que o governo estenda a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) desses produtos, que expira dia 31.

Depois de reunir-se ontem, em um hotel de São Paulo, com representantes do comércio e da indústria, Mantega não prometeu que o governo vá mesmo prorrogar o benefício. A decisão deve ser anunciada até o fim da semana. Mais cedo, porém, no seu programa semanal de rádio "Café com o presidente", o presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicou que a desoneração da linha branca deve ser mantida.

Segundo Mantega, a redução do IPI para o setor foi uma medida "bem-sucedida" e "eficiente", uma vez que proporcionou a retomada das vendas e da produção da indústria, abatidas pela crise global.

Varejo quer prorrogação antes de contratar mais

Desde 17 de abril, o IPI de geladeiras caiu de 15% para 5%; o das máquinas de lavar, de 20% para 10%; o dos tanquinhos, de 10% para zero; e o dos fogões, de 5% para zero.

- Governo, empresários da linha branca e do varejo estão tomando medidas necessárias para o melhor Natal dos últimos anos - sublinhou o ministro na saída do encontro.

O fim das reduções do IPI para a linha branca, de acordo com Luiza Trajano, presidente do Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV) e do Magazine Luiza, que participou da reunião ontem com o ministro, seria um grande desestímulo às vendas desses produtos que, no último trimestre do ano, representam cerca de 60% da receita do comércio varejista.

- O Natal seria muito ruim se o governo tirasse o benefício desses produtos - disse Luiza, acrescentando que as empresas fizeram uma espécie de prestação de contas ao ministro. - Mostramos a ele que não subimos preço e que repassamos todo o benefício.

No caso das cobranças por mais emprego, Luiza disse que o varejo só está esperando a decisão do governo sobre a manutenção do IPI reduzido para expandir o número de contratações neste fim de ano, em que, tradicionalmente, as vagas aumentam mais de 10%.

Entre abril e setembro, de acordo com dados da Eletros, entidade que reúne os fabricantes, as vendas atingiram dez milhões de unidades, 20% acima do estimado. Máquinas de lavar e tanquinhos, com alta de cerca de 28%, foram os produtos que mais venderam, seguidos de geladeiras (16%) e fogões (4,5%). Segundo a Eletros, foram criados seis mil novos empregos diretos e 30 mil indiretos no período.

Lourival Kiçula, presidente da Eletros, disse que o compromisso fechado com o ministro é manter esses trabalhadores no emprego com a prorrogação do IPI. Ele estima que as vendas neste último trimestre cresçam entre 5% e 10% na comparação com o trimestre anterior.

Lula defende estímulo ao mercado interno

Ao comentar a taxa de desemprego de 7,7% no mês passado, o presidente Lula defendeu ontem o estímulo ao consumo interno.

- O que o Brasil precisa é ter vários anos de crescimento consecutivo, para que a gente possa gerar mais empregos e mais renda, aumentar os ganhos dos trabalhadores, porque aí a sociedade vai ter mais poder de consumo, as empresas vão produzir mais e vamos gerar mais empregos - disse Lula, ressaltando a necessidade de ampliar o crédito no país.