Título: Irmã de Fidel era a agente Donna da CIA
Autor:
Fonte: O Globo, 27/10/2009, O Mundo, p. 25

Em biografia, Juanita Castro conta que a mulher de embaixador brasileiro a convidou a colaborar com a agência em 1961

OS IRMÃOS Fidel e Raúl Castro, juntos, em 2004: a caçula, Juanita, diz ter sido a ¿agente Donna¿ da CIA

JUANITA CASTRO: segredo mantido por 48 anos

MIAMI. Por anos, a CIA esteve infiltrada na família Castro. Esta semana, uma das irmãs de Fidel e Raúl, Juanita, fez uma revelação que ela mesma definiu como seu ¿segredo mais bem guardado¿: atuou a serviço da agência americana contra o governo de seus irmãos em Cuba antes de ir para o exílio, em 1964, no México e em Miami. No domingo, Juanita disse numa entrevista que foi chamada a colaborar para a CIA por Virgínia Leitão da Cunha, mulher do então embaixador brasileiro em Havana, Vasco Leitão da Cunha. E, no livro ¿Fidel e Raúl, meus irmãos ¿ A história secreta¿, lançado ontem nos EUA e em alguns países hispânicos, conta detalhes de sua vida dupla como ¿agente Donna¿.

Segredo foi mantido por quatro décadas

O segredo da relação de Juanita com o arqui-inimigo do irmão Fidel teria sido guardado por seis pessoas por 48 anos. De 1961 a 1964, ela conta que abrigou dissidentes em sua casa por ter se desencantado com a Revolução ¿ que ela ajudara arrecadando fundos ¿ devido à violência de prisões, fuzilamentos e confiscos de propriedades privadas. Quando se aliou à CIA, Juanita estava construindo clínicas e hospitais. A última vez em que falou com Fidel foi em 1963, no enterro da mãe, que a apoiava, e, com Raúl, em 1964.

Na entrevista ao canal hispânico da rede Univisión, em Miami ¿ onde se radicou e, até dois anos atrás, mantinha uma farmácia ¿ Juanita falou à jornalista María Antonieta Collins, coautora do livro.

¿ Comecei a me desencantar quando vi tanta injustiça. Tínhamos a tendência de culpar os subalternos, mas as ordens vinham de cima, de Fidel, de Che, de Raúl ¿ disse Juanita, hoje aos 76 anos, segundo o jornal ¿El País¿.

Ela narra ainda como foi chamada para trabalhar para a CIA por Virgínia Leitão da Cunha, mulher do então embaixador do Brasil em Havana, e, mais tarde, chanceler brasileiro, Vasco Leitão da Cunha. E conta que o primeiro contato com a CIA se deu semanas após a frustrada tentativa de invasão da Baía dos Porcos pelos EUA. Juanita diz que ela e Virgínia viajaram ao México em junho de 1961, separadamente, para se reunir com Tony Sforza, um especialista sobre Cuba na agência, no Hotel Camino Real. Como pretexto para a viagem, Juanita alegou que visitaria a irmã Enma.

Segundo Juanita, Sforza, de codinome Enrique, era peça-chave no Projeto Cuba, a maior operação da CIA contra a ilha. Ele atuava infiltrado em Cuba como jogador em cassinos. No encontro, ela teria dito que só aceitaria ser espiã se lhe garantissem que não participaria de atividades violentas contra o irmão. ¿Senti remorso por trair Fidel ao concordar em encontrar seus inimigos? Não, por uma simples razão: eu não o traí. Ele me traiu¿, diz no livro, ¿Traiu milhares de nós que sofremos e lutamos por uma Revolução que ele ofereceu, generosa e justa, e que traria paz e democracia a Cuba¿.

A primeira missão da ¿agente Donna¿, seu codinome, teria ocorrido dias depois, quando ela regressou a Cuba trazendo latas de conserva cheias de mensagens e dinheiro para os homens da CIA na ilha. Depois, comunicava-se com a CIA por rádio: uma valsa e a abertura da ópera ¿Madame Butterfly¿ eram os sinais usados pela agência para mostrar que havia novas instruções para Juanita.

Juanita deixou Cuba em 1964, após Raúl Castro lhe ter dito que havia uma investigação contra ela ¿ sem dar indícios, porém, de que o governo desconfiasse de suas ligações com a CIA. Raúl a ajudou a preparar a viagem de exílio para o México, onde Juanita escreveu um comunicado rompendo oficialmente com a Revolução.