Título: TAM: erro de piloto é principal hipótese para acidente
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Fonte: O Globo, 28/10/2009, O País, p. 11

BRASÍLIA e SÃO PAULO. O relatório preliminar do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) sobre o acidente do vôo 3054 da TAM, em 17 de julho de 2007, indica que a causa mais provável do desastre foi o erro do piloto. Ele teria esquecido o manete de controle da turbina direita em posição de aceleração durante o pouso. Isso teria anulado a tentativa de frenagem e levado o Airbus A-320 a varar a pista, colidir com um hangar e explodir, deixando 199 mortos. Técnicos consideraram improvável, mas não puderam descartar a hipótese de falha no sistema de transmissão de comando dos manetes para o motor.

O documento apresenta como "fatores contribuintes" os problemas denunciados após o acidente. Entre eles, as omissões da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que deveria ter feito a regulamentação de segurança da pista reformada de Congonhas, e da Infraero, que não seguiu os procedimentos corretos de inspeção, homologação e adequação no aeroporto. Outros fatores apontados foram a deficiências no treinamento dos pilotos e a falta de alerta efetivo na cabine para erro de posição nos manetes; essa falha já havia causado outros acidentes no modelo A-320.

O texto foi discutido ontem em reunião da comissão internacional de investigação em Brasília . O documento passa por sua última revisão. Investigadores da França e dos Estados Unidos poderão sugerir modificações ou acréscimos e até propor relatórios paralelos.

Em nota, a FAB informou que o Cenipa manteve o sigilo das informações relativas à investigação, conforme as regras internacionais. O relatório tem finalidade preventiva e não aponta culpados. Porém, pode ser usado como prova técnica em processos civis e criminais.

O avião PR-MBK estava funcionando com o reverso da turbina direita inoperante. Nessas condições, a norma da Airbus recomendava que ambos reversores fossem acionados após o pouso, ainda que somente um funcionasse. Essa regra visava a inibir o "esquecimento" de um dos manetes.

Os pilotos não conseguiram frear manualmente

A principal hipótese de causa do acidente é que o piloto tenha acionado corretamente o manete esquerdo, mas esquecido o manete direito em aceleração. O A-320 é programado para dar soberania ao comando do piloto, que, nesse caso, foi uma aceleração não intencional. Dessa forma, o acionamento automático da frenagem (flaps) foi cancelado. Os pilotos não conseguiram frear manualmente, não tentaram arremeter nem receberam qualquer alerta de que a turbina direita estivesse acelerando.

"Ficou constatado que, na aeronave A-320, é possível, durante o pouso, posicionar um dos manetes de potência na posição reverso (frenagem) e outro na posição de subida (aceleração), sem que nenhum dispositivo alerte de modo eficiente os pilotos", diz o relatório.

Parentes das vítimas tiveram reações distintas. Para Archelau Xavier, vice-presidente da Afavitam, entidade que congrega as famílias, o documento divide as responsabilidades entre a fabricante do avião, a Airbus, a TAM, a Anac e a Infraero. Mas, para Christophe Haddad, que integra a entidade e também representa a Federação Internacional das Famílias de Vítimas de Acidentes Aéreos na França, o relatório foi adaptado pelas autoridades francesas para "não deixar rastros dos problemas da Airbus":

- As gravações mostram que os pilotos estavam fazendo tudo para frear a aeronave. Mas essa é a novela da Airbus: sempre têm de dizer que está tudo ok com os aviões da companhia.

- O relatório mostra que houve transgressão clara das normas de segurança por parte de todos e que o alarme na cabine poderia ter evitado o acidente, mas que a Airbus apenas indicava os alarmes como facultativos - disse Xavier.