Título: A multiplicação das pedras
Autor: Braga, Ronaldo
Fonte: O Globo, 28/10/2009, Rio, p. 12

Total de crack apreendido pela polícia no estado cresce 542% de 2008 para este ano

Um levantamento do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE), feito para o Instituto de Segurança Pública (ISP), constatou o grande crescimento do crack no mercado das drogas no Rio. Este ano, de janeiro a setembro, a polícia já apreendeu no estado 68,55 quilos da droga, o que representa um aumento de 542% em relação ao mesmo período de 2008, quando o total foi de 10,68kg. Em todo o ano passado, policiais recolheram 13,36kg, o que já tinha representado um crescimento de 38% em comparação com 2007, quando o volume recolhido somou 9,7 quilos.

A participação do crack no total de drogas apreendidas também cresceu. Segundo o ICCE, em 2007, as pedras responderam por uma fatia de 5,5% de todas as substâncias (como maconha e cocaína) recolhidas em operações da polícia. Em 2008, esse índice passou para 9,2%. Especialistas estimam que cerca de 90% dos moradores de rua são dependentes de crack.

O delegado Marcus Vinícius Braga, da Delegacia de Combate às Drogas (Dcod), disse que, nos últimos meses, o número de apreensões de pedras triplicou. Ontem mesmo, sua delegacia recolheu dez quilos da droga durante uma operação na Favela de Manguinhos. De acordo com o delegado, que comandou a operação, os dez quilos representam 50 mil pedras.

- As apreensões estão aumentando cada dia mais. Em 2008, a minha delegacia apreendeu três mil unidades. Este ano, até ontem (anteontem), tínhamos apreendido 17 mil pedras. Com esses dez quilos de hoje (ontem), que equivalem a 50 mil unidades, já somamos 67 mil pedras - explicou o policial.

Droga é produzida em algumas favelas

Um levantamento da Dcod mostra que, hoje, os principais pontos de venda de crack no Rio são, além de Manguinhos, a Favela de Jacarezinho. Mas a droga é traficada também em outras grandes favelas, como Maré (Bonsucesso), Alemão (Ramos), Macacos (Vila Isabel), Mangueira, Rocinha, Santo Amaro (Catete) e São Carlos (Estácio). Na segunda-feira, agentes da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense prenderam um homem com aproximadamente cinco mil pedras durante uma operação no Morro do Sete, em Realengo.

O crack não vem de fora: é produzido em laboratórios clandestinos em algumas favelas. Na Rocinha e em Manguinhos, por exemplo, já foram encontradas unidades que produziam a droga.

Segundo o delegado Marcus Vinícius Braga, a maior presença das pedras no Rio favorece o aumento da violência. No sábado, por exemplo, o músico Bruno Kligierman de Melo, de 26 anos, viciado em crack, estrangulou em seu apartamento, no Flamengo, a estudante Bárbara Chamun Calazans Laino, de 18. Preso no mesmo dia, Bruno foi transferido ontem da Polinter de Neves, em São Gonçalo, para o Presídio Ary Franco, em Água Santa. Parentes do músico recorreram à Defensoria Pública para obter a sua transferência.

- Caso ele tenha algum problema em Água Santa, o socorro é mais rápido, já que lá eles têm médicos e a estrutura é bem melhor. Se ele tivesse algum problema aqui, até chegar a um hospital em São Gonçalo, poderiam acontecer problemas - disse o diretor da Polinter, Orlando Zaconi. - Não podíamos ficar com ele, já que não temos pessoal de saúde especializado nesses casos. Foi uma decisão acertada.

Ontem também, o secretário municipal de Assistência Social, Fernando William, informou que os primeiros centros de atendimento específicos para jovens viciados em crack serão abertos ainda esta semana. As unidades terão capacidade para atender 40 rapazes e 20 moças de até 18 anos. Até o fim deste mês, será aberto um centro para mulheres adultas. Já nas três unidades do estado, atualmente estão internados 191 dependentes.