Título: Brasil cai para 82 em desigualdade de gênero
Autor: Martins, Marília
Fonte: O Globo, 28/10/2009, Economia, p. 23

Diferenças no mercado de trabalho fizeram país perder posições em ranking do Fórum Econômico. Islândia lidera

NOVA YORK. O Brasil caiu nove posições no ranking da desigualdade entre homens e mulheres elaborado anualmente pelo Fórum Econômico Mundial. No relatório ¿Desigualdade Global de Gênero¿ 2009, apresentado ontem em Nova York, o país aparece em 82º lugar numa lista de 134 nações, atrás de Gana (81º) e Tanzânia (73º). Se fossem considerados apenas os 130 países que participaram da edição do relatório de 2008, o Brasil estaria em 80º lugar, ante o 73º em que ficou no ano passado.

A Islândia foi apontada como o país com menor desigualdade de gênero do mundo, superando a Finlândia, que se manteve na segunda posição, e a Noruega, que era a primeira em 2008 e agora está no terceiro lugar.

A trajetória do Brasil tem sido de queda. Em 2006, ano da primeira edição do ranking, quando foram avaliados 115 países, o Brasil ficara em 67º lugar. O que puxou o país para baixo este ano foram as diferenças salariais e no mercado de trabalho. Se a pesquisa fosse feita apenas com o item diferenças salariais pelo mesmo trabalho executado, o Brasil estaria na 114ª posição.

No entanto, as mulheres brasileiras têm nível de instrução similar ao dos homens. Se considerados os critérios de taxa de alfabetização e matrículas em nível superior, por exemplo, o Brasil estaria em primeiro lugar, ao lado da Islândia.

A participação feminina no Congresso também foi mal avaliada. Sozinha, ela jogaria o país para o 109ºlugar. O Brasil também ganhou uma nota ruim no quesito legislação capaz de coibir e punir a violência contra mulheres.

África do Sul subiu da 22ª posição para o sexto lugar

O relatório mede a participação de homens e mulheres na sociedade de acordo com quatro critérios básicos: diferenças salariais e participação no mercado de trabalho; acesso à educação e nível de formação educacional; acesso à saúde e queda de índices de mortalidade; e participação política e posição em cargos de poder político.

Entre os dez primeiros países da lista, houve algumas novidades em relação à pesquisa de 2008. A maior delas foi o avanço impressionante da África do Sul, que passou do 22º para o sexto lugar da lista, melhorando seu desempenho em todos os setores pesquisados. Também a Islândia foi destaque, passando do quarto para o primeiro lugar do ranking, apesar de ser uma das economias mais afetadas pela crise financeira mundial.

¿ A pesquisa deste ano mostrou que economias em desenvolvimento como a da África do Sul podem ter ganhos impressionantes com relação à luta contra a desigualdade. Os países escandinavos continuam no topo da lista, com destaque para a Islândia. Entre os piores estão a Arábia Saudita e Chade. No mundo, as maiores diferenças estão no acesso à saúde e à educação, as que têm mais impacto no cotidiano e na expectativa de vida ¿ diz Saadia Zahidi, uma das responsáveis pelo relatório de 2009.

Entre os Brics, Brasil ganha apenas da Índia

O salto da África do Sul foi superado por poucos, entre eles o Paraguai, que passou da centésima posição em 2008 para a 66º em 2009.

O avanço de 34 posições num intervalo de apenas um ano foi considerado um recorde pelo Fórum Econômico Mundial. Mas o país ainda está longe da dianteira na América Latina. Trinidad Tobago (19º) e Barbados (21º) são os que lideram a lista das nações latino-americanas. Equador e Argentina vêm em seguida, nas 23ª e 24ª posições, respectivamente. Na região, o Brasil só não é mais desigual que Bolívia, México, Ilhas Maldivas e Guatemala.

Entre as quatro economias emergentes reunidas nos Brics, o Brasil só ganha da Índia, que ficou na 114ª posição. Rússia e China, que avançaram duas posições, ficaram em 51º e 60º lugares, respectivamente.