Título: Lula quer a Venezuela no Mercosul
Autor: Oliveira, Eliane; Franco, Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 29/10/2009, Economia, p. 25
Governistas se mobilizam para aprovar hoje, no Senado, entrada de país no bloco
BRASÍLIA. Por determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que desembarca hoje em Caracas para visita de dois dias, a base governista no Senado não poupará esforços para aprovar hoje o protocolo de adesão da Venezuela ao Mercosul. A sessão está marcada para esta manhã, na Comissão de Relações Exteriores (CRE). O líder na Casa Romero Jucá (PMDB-RR) apresentará voto em separado ao do relatório alertando que a perspectiva de veto é preocupante, pois representaria ¿um ato de hostilidade do Estado brasileiro contra um país amigo¿.
Ao apresentar um texto próprio, Jucá optou pelo confronto direto com o relator da matéria, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). Ele deu parecer pela rejeição à entrada dos venezuelanos no bloco.
Segundo Jucá, o indeferimento da adesão da Venezuela acarretaria graves consequências para os interesses comerciais, industriais, políticos e estratégicos do Brasil e do Mercosul. Ele disse que a tendência é que a comissão aprove seu voto, que recomenda a aceitação da Venezuela sem qualquer ressalva: ¿ As críticas da oposição ao presidente Chávez não podem barrar a entrada do país no bloco.
Isolar a Venezuela não é remédio contra o Chávez. O Muro de Berlim não levou democracia à Alemanha Oriental. Se isolarmos a Venezuela, eles podem restringir mais as liberdades.
A oposição tentou, até ontem, adiar a sessão. Mas o governo manteve sua posição. Na terçafeira, Jereissati admitiu que poderia rever seu voto, se fossem dadas garantias de Chávez de que as normas em vigor na região serão cumpridas por seu país.
Ontem, porém, ele disse que não vai mais mudar seu parecer.
Juca: não se deve confundir governo com Estado Jucá afirma, em seu relatório, que não se deve confundir governos com Estados. Diz que o Norte e o Nordeste serão os mais beneficiados com a adesão e lembra que a Venezuela é o sexto principal destino das exportações brasileiras. Sobre democracia e direitos humanos naquele país, o líder afirma que o ingresso no Mercosul só fortalecerá esses valores e diz ser equivocado o argumento de que, antes da eleição de Chávez, a Venezuela vivia uma democracia plena.
¿Não há dúvida sobre a legitimidade do presidente Chávez¿, afirma Jucá no relatório, comparando o Mercosul a uma escola. ¿O Mercosul pode ser entendido como uma escola que educa os alunos, com seus princípios, normas, regras e procedimentos.
Manter os alunos fora da escola significa mantê-los marginalizados da sociedade no futuro. Trazê-los para a escola é a única alternativa¿.
O porta-voz da Presidência, Marcelo Baumbach, disse que Lula tem confiança de que o Senado aprovará o ingresso da Venezuela no Mercosul. Ele confirmou que o assunto será tema da viagem de Lula a Caracas, ao se reunir com Chávez.
Como parte da estratégia governista, o senador Fernando Collor (PTB-AL), que resistia a apoiar o texto, viajou e não vai votar. Jucá disse contar também com o aval do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP)