Título: Perigo nas estradas
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 29/10/2009, O País, p. 3

Pesquisa da Confederação dos Transportes reprova 69% das rodovias brasileiras

BRASÍLIA

Pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT), divulgada ontem, reprovou a condição de 69% das estradas brasileiras. De acordo com o levantamento, 24% delas são ruins ou péssimas, e outras 45% estão em condições apenas regulares ¿ o que, para a CNT, não significa uma aprovação. Assim, apenas 31% das rodovias ¿ menos de um terço ¿ estão em boas ou ótimas condições. E o trabalho inclui apenas rodovias pavimentadas.

O estudo analisou 89.552 quilômetros de estradas, 84% delas mantidas pelo poder público. Embora o resultado esteja longe do satisfatório, foram registrados avanços em relação à pesquisa anterior, de 2007. Somados os trechos regulares, 73,9% foram reprovados há dois anos, quando 33,1% das rodovias estavam em situação ruim ou péssima. As equipes foram a campo entre junho e julho e percorreram todas as estradas federais pavimentadas, as principais estaduais e 14.215 quilômetros sob concessão à iniciativa privada (estas são 15% do total).

A Pesquisa Rodoviária 2009 foi feita com 15 equipes de avaliadores percorrendo os 89.552 quilômetros, segundo a CNT. A avaliação focou três aspectos: pavimentação, sinalização e geometria (traçado das vias). Segundo a CNT, 48.599 quilômetros (54,2% do total) estão com a pavimentação em ¿estado crítico¿, o que inclui os trechos regulares. Problemas de sinalização foram detectados em 57.240 quilômetros (63%). Outros 41.435 quilômetros de rodovias não têm acostamento e 4.144 quilômetros estão tomados por afundamentos, ondulações ou buracos. O estudo classificou 6.354 quilômetros (7,1%) como péssimos e 15.150 quilômetros (16,9%) como ruins, considerando as três variáveis.

¿ Fazemos a pesquisa sob o ponto de vista dos usuários. Estradas regulares, ruins ou péssimas não deveriam existir ¿ disse o diretor-executivo da CNT, Bruno Batista

Precariedade gera prejuízos, diz CNT

A entidade estima que o investimento necessário para recuperar a malha rodoviária é de R$ 32 bilhões. Isso corresponde a seis vezes o gasto federal com estradas em 2008. O gasto do governo federal vem crescendo ¿ em 2007, foram R$ 4,9 bilhões ¿, mas a CNT diz que o ritmo é insuficiente. Batista diz que a deterioração é permanente, e que qualquer investimento adiado resulta em despesas maiores.

A precariedade das estradas, conforme a CNT, gera prejuízos. Um deles é o aumento do consumo de combustível decorrente da velocidade média mais baixa. A perda anual pode chegar a R$ 4,3 bilhões.

O estudo assinala, no entanto, que os problemas de pavimentação não levam à redução de velocidade em 95,3% das estradas. E 23,7% das rodovias têm trechos com curvas perigosas, sendo que apenas em 13% deles as placas de sinalização estão legíveis e há defensas para evitar que os veículos saiam da pista.

A pesquisa concluiu que a região Norte vive a pior situação. Mais de 90% de suas estradas estão em más condições. O Amazonas não tem rodovias boas ou ótimas: a malha rodoviária está em situação péssima (27,2%), ruim (56,7%) ou regular (16,1%). No Acre, 98,7% estão em situação insatisfatória.

Roraima tem o maior índice de estradas péssimas: 43,6%.

Em números absolutos, Minas, com a maior malha rodoviária do país, tem a maior extensão de pistas em piores condições: 1.036 quilômetros em péssimo estado e 2.234 em situação ruim.

O Sul e o Sudeste têm as melhores estradas.

São Paulo tem 54,3% de rodovias consideradas ótimas e 21,1% boas ¿ 75,4% de avaliação positiva.

Distrito Federal, Alagoas e Amapá não têm trecho considerado péssimo.

Segundo o estudo, as rodovias concedidas estão em melhor estado que as públicas: 76,5% delas são boas ou ótimas; 1,9%, ruins; 21,7%, regulares; 33,9, bons e 42,6%, ótimos. Nenhum trecho foi considerado péssimo.