Título: Volta de Cuba na agenda da OEA
Autor: Vaz, Viviane
Fonte: Correio Braziliense, 31/05/2009, Mundo, p. 19

Organização continental recebe pressão do bloco latino para revogar exclusão da ilha. Tema está na pauta da semana

O presidente cubano, Raúl Castro (d), conversa na Bahia com Hugo Chávez (c), Evo Morales (e) e Lula: América Latina desafia Washington Nem o terremoto de 7,1 graus na escala Richter que abalou Honduras na semana passada pôde demover o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, da decisão de realizar a próxima reunião da Assembleia Geral na cidade hondurenha de San Pedro Sula, nesta terça e quarta-feira. A revogação da suspensão imposta a Cuba em 1962 promete voltar à mesa de negociação dos embaixadores de 35 países. ¿Com certeza, o tema de Cuba estará na pauta de discussão¿, garantiu ao Correio a diretora de Comunicação, Patricia Esquenazi, destacando que a agenda ainda não está fechada e deve ser divulgada amanhã.

Insulza reiterou na quinta-feira que acredita que os países-membros chegarão a um consenso sobre a revogação do texto. ¿Tenho grande fé na capacidade dos seres humanos de chegar a um acordo, e espero que isso aconteça. Acho que seria uma grande coisa para a organização¿, afirmou. No entanto, o governo cubano indicou, em artigo publicado no principal jornal da ilha, o Granma, que os esforços de Insulza provavelmente serão em vão. ¿Quanto a Cuba, não precisamos da OEA. Não queremos entrar nela nem reformada. Escorre sangue e infâmia por todos os seus poros. Nunca voltaremos a esse vetusto casarão de Washington, testemunha de tantas vergonhas compradas e tantas humilhações¿, afirma, em artigo, Oscar Sánchez Serra.

O texto enumera os momentos históricos, entre as décadas de 1960 e 1980, em que a organização interferiu nos assuntos internos de países latino-americanos, com golpes militares contra governos legitimamente eleitos na Guatemala, Equador, República Dominicana, Bolívia, Uruguai, Argentina, Chile e Panamá. ¿A OEA impôs a dupla moral, a corrupção política e administrativa, tornou ingovernáveis as democracias, tornou-as ditaduras e, quando não prestaram mais, transformou-as em democracias minguadas e submissas¿, afirma o Granma.

O jornal, diário oficial do Partido Comunista cubano, qualifica a OEA como um ¿cadáver pestilento¿ e retorna à ideia lançada na 1ª Cúpula da América Latina e Caribe(Calc), realizada em dezembro do ano passado na Costa do Sauípe (BA). Lá, o presidente mexicano, Felipe Calderón ¿ que tinha tudo para atuar como o maior aliado de Washington no encontro ¿, cogitou a fundação de uma nova organização de países latino-americanos e caribenhos, sem os Estados Unidos.

Apesar de acreditar no consenso sobre o levantamento das sanções a Cuba, Insulza reconhece que a readmissão do país na organização ¿é outro tema¿, devido às negativas de Havana. ¿Espero que alguma hora mudem de opinião, mas isso é uma decisão deles, não nossa, a nossa é em relação a uma resolução da Guerra Fria que, a meu ver, não deveria estar em vigor¿, concluiu.

Dificuldade Todos os países-membros concordam em revogar a resolução que suspendeu Cuba da OEA alegando incompatibilidade do ¿regime marxista-leninista¿ instalado na ilha com os princípios da organização. A dificuldade é saber o que fazer com Cuba na OEA. O projeto considerado mais moderado é o de Honduras, que propõe que as futuras relações sigam a ¿vontade expressa¿ de Havana.

O projeto dos EUA condiciona o diálogo com Cuba à verificação de que há no país ¿respeito pleno¿ aos direitos humanos e liberdades fundamentais. Por outro lado, o embaixador da Nicarágua, Denis Ronaldo Moncada, gostaria que a exclusão cubana fosse declarada ¿um ato de injustiça¿ da OEA. Se o cantor cubano Carlos Puebla estivesse vivo, talvez repetisse, em meio a gargalhadas, o refrão de uma de suas canções mais conhecidas da década de 1960: ¿Como não vou rir da OEA?¿