Título: Desperdício de R$ 90 milhões
Autor: Costa, Ana Claudia
Fonte: O Globo, 29/10/2009, Rio, p. 12

Lula diz ser difícil combater crime, mas aparelhos federais para detectar armas e drogas ficam parados

O presidente Lula disse ontem, durante visita à Vila Olímpica da Mangueira, que é difícil combater a violência. Essa tarefa, no entanto, poderia ser mais fácil se os órgãos de segurança do Rio pudessem contar com as 55 esteiras de raios X e os quatro portais com scanners gigantes que estão se deteriorando há mais de dois anos, encaixotados num galpão na sede da Superintendência da Polícia Rodoviária Federal (PRF) na Via Dutra, em Irajá. Os equipamentos de última geração ¿ capazes de detectar armas e drogas em caminhões, ônibus e carros nas estradas ¿ foram comprados pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), por cerca de R$ 90 milhões, para serem usados durante o Pan de 2007. O Ministério da Justiça reagiu com surpresa e indignação diante da denúncia, e o secretário-executivo da pasta, Luiz Paulo Barreto, ordenou a abertura de sindicância para apurar responsabilidades.

No galpão, que alaga quando chove, as esteiras (avaliadas em R$ 1,2 milhão cada) e os pórticos (cerca de R$ 6 milhões a unidade) ainda estão dentro de caixas e cobertos por plásticos.

Além desses esquipamentos ¿ que têm similares já usados pela Receita Federal ¿, material de primeiros socorros também apodrece numa ambulância no depósito da PRF.

De acordo com agentes da Polícia Rodoviária, um portal de raios X ou uma esteira numa blitz poderiam revelar se caminhões, ônibus e outros veículos estão transportando drogas e armas, mesmo que camufladas. Essas operações, segundo eles, poderiam ser montadas na BR-101, na BR040 (Rio-Juiz de Fora) ou na Via Dutra. A sensibilidade dos equipamentos permite detectar metais e substâncias orgânicas.

A diferença entre os aparelhos é que, no caso do portal, o veículo passa por ele; já a esteira é para verificação de bagagem.

É justamente esse trabalho de impedir o contrabando de armas e drogas que o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, cobrou do governo federal semana passada. Ao comentar a onda de violência na cidade, ele disse que o ¿Rio precisa que o governo federal assuma plenamente a responsabilidade legal de combate à droga¿. Segundo ele, ¿tráfico de drogas é com a Polícia Federal

Presidente: recursos ilimitados para o Rio

Ao participar da inauguração da reforma de uma quadra poliesportiva na Mangueira, Lula chegou a afirmar que os bandidos não podem ser considerados pessoas normais, numa referência à guerra entre quadrilhas, que teve um helicóptero da polícia derrubado.

O presidente acrescentou que o ministro da Justiça, Tarso Genro, já prometeu recursos ilimitados para que o estado enfrente a violência.

¿ O que eu acho grave é que nós sabemos o que gerou aquela violência.

Nós sabemos que é quadrilha brigando com quadrilha e que, muitas vezes, as pessoas acham que o governador poderia acabar com aquilo em um minuto. Ora, fosse fácil acabar com aquilo em um minuto, essa violência não estava perdurando há 30 ou há 40 anos ¿ disse o presidente.

Segundo Lula, o fundamental é que os governos se empenham em resolver a questão: ¿ Se a gente somar os esforços e não ficar discutindo merreca de dinheiro, a gente pode resolver esse problema com mais facilidade.

As caixas com os pórticos e as esteiras no depósito da PRF ainda estão com etiquetas de recebimento da Infraero, datadas de 22 de junho de 2007. Em outra etiqueta, está a informação de que as esteiras vieram da Coordenadoria de Logística da Secretaria Nacional de Segurança Pública.

Alguns dos aparelhos de raios X já estão abertos, debaixo de goteiras.

Ao saber do caso, o sociólogo e coordenador do Programa de Controle de Armas de Fogo do Viva Rio, Antônio Rangel, disse que a ausência desses equipamentos nas divisas do estado só vem confirmar o que ele ouviu de traficantes na CPI das Armas, da Câmara dos Deputados: ¿ Traficantes disseram que passavam nas fronteiras e nas estradas de acesso ao Rio com armas e drogas sem serem incomodados, porque ninguém fiscaliza nada.

O superintendente regional substituto da PRF, inspetor Eugênio Nemirovsky, disse que a corporação por enquanto funciona apenas como fiel depositária dos scanners e das esteiras.

Ele acrescentou que aguarda a tramitação de documentos para que os aparelhos possam ser usados pela PRF. O inspetor negou que os scanners estejam se deteriorando e disse que eles estão armazenados com material de proteção próprio. n COLABORARAM Carla Rocha e Luiz Ernesto Magalhães

¿Ora, se fosse fácil acabar com aquilo em um minuto, essa violência não estava perdurando há 30 ou há 40 anos Presidente Lula, ontem Estamos dispostos a fazer o sacrifício que for necessário para limpar a sujeira que essa gente impõe ao Brasil O presidente Lula, em outubro, sobre os recentes confrontos no Rio Quando acontece coisa mais grave numa cidade, passamos meses e meses tentando encontrar o culpado. Se é o governo federal, se é o governo estadual, se é a Polícia Civil, se é a Polícia Militar ou se a Polícia Federal deve entrar. É um jogo de empurra Lula, em agosto Queremos colocar uma luz no começo do túnel, não no final. Quando menos a gente esperar, vamos diminuir a criminalidade, a violência e o número de jovens mortos na rua Lula, em 24 de novembro de 2008 A casa está arrumada, e os resultados começam a aparecer. Mas é necessário avançar ainda mais, sobretudo em segurança, educação e saúde Lula, na TV, em 27 de dezembro de 2007 Sinto que em matéria de segurança pública, um verdadeiro flagelo nacional, crescem as condições para uma efetiva cooperação entre a União e os estados da federação, sem a qual será muito difícil resolver este crucial problema Lula, em 1ode janeiro de 2007, em seu discurso de posse