Título: Após recessão, EUA crescem 3,5% e Casa Branca é cautelosa sobre crise
Autor: Scofield Jr., Gilberto
Fonte: O Globo, 30/10/2009, Economia, p. 26

Obama e analistas destacam pacote do governo, mas temem efeito temporário

Correspondente

WASHINGTON e TÓQUIO. Apesar dos dados divulgados ontem pelo Departamento de Comércio dos EUA mostrarem que o pacote de estímulo de US$ 787 bilhões fez a economia do país crescer 3,5% de forma anualizada (que projeta o ritmo de crescimento em 12 meses) no terceiro trimestre ¿ a primeira alta em mais de um ano, o que coloca os EUA, ao menos em tese, fora da recessão econômica ¿, a Casa Branca não abandonou o tom de cautela sobre a severidade da maior crise econômica vivida pelos EUA desde os anos 30. Os economistas foram igualmente cuidadosos ao questionar a sustentabilidade da recuperação sem os estímulos do governo.

Em um encontro com um grupo de executivos, o presidente dos EUA, Barack Obama, disse que os números são uma ¿notícia bem-vinda¿ e mostram que ¿a recessão está se abatendo e as medida adotadas pelo governo fizeram diferença¿. O Produto Interno Bruto dos EUA (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) havia caído 6,4% no primeiro trimestre e 0,7% no segundo: ¿ Temos ainda um longo caminho a percorrer para recuperar nossa economia.

A chefe do Conselho de Assessoria Econômica da Casa Branca, Christina Romer, comemorou a virada no crescimento econômico de 9,9 pontos percentuais do início do ano até agora. Ela disse que o pacote de estímulo foi responsável por algo entre três e quatro pontos percentuais na alta do PIB no terceiro trimestre.

¿ Após quatro consecutivos trimestres de queda, a expansão do PIB é um sinal encorajador de que a economia dos EUA ruma na direção certa. Porém, essa conquista é apenas outro passo e temos ainda um longo caminho até a recuperação total ¿ disse ela. ¿ A virada nos indicadores de mercado de trabalho, como renda e desemprego, ocorrem tipicamente após a virada no PIB. E é preciso um crescimento sustentável e robusto para reduzir o desemprego substancialmente.

Desemprego e déficit público são os maiores desafios A taxa de desemprego, que em setembro chegou a 9,8%, e o alto déficit público dos EUA (US$ 1,4 trilhão este ano) são os maiores desafios de curto e longo prazos, respectivamente, segundo o professor do Departamento de Economia da Universidade George Washington, Harry Watson, especialista em finanças públicas: ¿ Fala-se num novo pacote de estímulos, mas o déficit do governo limita uma ação maior no sentido de dar mais dinheiro para o crescimento, o que ajudaria a reduzir o desemprego.

Então acho muito cedo para comemorar, até porque muitos dos efeitos do pacote no crescimento foram temporários.

Ele se refere à alta no consumo doméstico de bens duráveis no terceiro trimestre: 22,3%, em comparação com uma queda de 5,6% no segundo trimestre.

Ainda que o setor de habitação tenha mostrado a primeira alta em 15 trimestres, um dos grandes empurrões no consumo veio do setor de carros e caminhões, turbinados pelo programa ¿Dinheiro por sucata¿, um fundo federal de US$ 3 bilhões que pagou aos consumidores US$ 4.500 na troca de modelos velhos de carros por novos e mais eficientes.

Nas três semanas que durou, entre julho e agosto, foram vendidos 700 mil veículos. Mas, com o fim do programa, as vendas de veículos despencaram 41% de um modo geral, em relação a agosto, e 23%, em relação ao mesmo mês do ano passado. A queda nas vendas de algumas montadoras americanas, como GM e Chrysler, foram ainda maiores: 45% e 42%.

¿ É certo que a economia está se colocando de pé novamente, mas por quanto tempo após o governo começar a retirar seus estímulos? Esta é a grande questão para uma nação de 15,1 milhões de desempregados ¿ disse Chris Rupkey, economistachefe do Banco de Tóquio-Mistubishi em Nova York.

A boa notícia é que o crescimento voltou sem a ameaça da alta descontrolada da inflação. O Índice de Preços para as Compras Brutas Domésticas, um indicador amplo sobre o consumo de bens e serviços nos EUA, cresceu 1,6% no terceiro trimestre (a alta no segundo trimestre foi de 0,5%). Retiradas as despesas com energia e alimentos, a inflação foi de 0,5%.

No Japão, a taxa de desemprego caiu pelo segundo mês seguido em setembro, para 5,3%.

(Com agências internacionais