Título: Comissão do Senado aprova Venezuela no Mercosul
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 30/10/2009, Economia, p. 31

Ingresso do país no bloco ainda vai a plenário, onde oposição promete travar projeto. Lula comemora decisão

BRASÍLIA, CARACAS e BUENOS AIRES. A Venezuela está muito próxima de ter seu ingresso no Mercosul aprovado pelo Congresso brasileiro. Ontem, conforme prometido, a base governista não deu chances à oposição e rejeitou na Comissão de Relações Exteriores (CRE) do Senado, por 11 votos a 5 (e uma abstenção), o relatório do senador Tasso Jereissati (PSDBCE), que se opunha à adesão venezuelana. Na sequência, por 12 a cinco, passou o voto do líder do governo, senador Romero Jucá (PMDB-RO), autorizando a entrada do vizinho.

A adesão da Venezuela ¿ sexto maior parceiro comercial do Brasil, com mais de US$ 4,6 bilhões de saldo comercial com o vizinho ¿ tem de ser aprovada, agora, pelo plenário do Senado.

Neste, a vantagem do governo diminui, e a oposição promete se mobilizar para impedir a adesão.

A sessão está prevista para a próxima semana.

Líder do PSDB: `Missa de Sétimo Dia do Mercosul¿ O presidente Lula, na Venezuela para uma visita de dois dias, comemorou, no fim da noite, a aprovação na comissão: ¿ Estamos num momento extraordinário. Ainda falta a votação em plenário, mas estou convencido de que os senadores amadureceram e hoje a grande maioria tem consciência da importância dessa parceria. Sonho que um dia todos os países da América do Sul vão participar do Mercosul.

Todos nós estaremos falando ¿portunhol¿ e circulando livremente, sem barreiras nas nossas fronteiras ¿ disse ele, ao inaugurar o Consulado Geral do Brasil em Caracas.

Durante a viagem, Lula espera que Chávez demonstre apreço pelo Senado brasileiro. Uma das razões é que a maioria dos senadores manifestou preocupação com o respeito aos direitos humanos e aos princípios democráticos.

Além disso, Chávez chamou, há cerca de um ano, os senadores de ¿papagaios do império americano¿.

Eu, que fui a vida inteira chamado pelo PT de porco capitalista, hoje vejo que sou maior do que o vil metal do superávit comercial com a Venezuela ¿ lamentou Jereissati.

O texto do ingresso do país vizinho no Mercosul já passou na Câmara e, se aprovado no Senado, vai a sanção de Lula.

Com isso, a Venezuela teria não apenas direito a voz, mas também a voto e veto no Mercosul.

O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), reiterou posição contrária à aprovação: ¿ A cláusula democrática do Mercosul é uma maneira de forçar que os países do bloco garantam liberdades individuais e respeito à liberdade de imprensa e direitos humanos.

¿ Estamos hoje antecipando a Missa de Sétimo Dia do Mercosul.

Mas podemos evitar. No plenário, a correlação de forças é diferente ¿ disse o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM).

A sessão na CRE durou mais de quatro horas. A primeira vitória do governo foi a rejeição do requerimento do senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR), que propunha a visita de uma comissão de senadores à Venezuela para verificar a existência de presos políticos.

¿ Uma coisa é a comissão visitar Caracas para discutir o ingresso da Venezuela no Mercosul.

Outra é verificar se há presos políticos. É uma discussão interna ¿ rebateu Jucá.

O senador Heráclito Fortes (DEM-PI) brincou com Jucá: ¿ Espero que Jucá não passe pelo constrangimento de Chávez invadir Roraima.

Pedro Simon (PMDB-RS) alertou para danos à imagem do Senado, se a adesão não for aprovada: ¿ Daqui a dez anos, ninguém se lembrará de Chávez.

Mas ficará marcado na História que o Senado brasileiro impediu o ingresso da Venezuela no Mercosul.

Política de Chávez afetou Usiminas e Petrobras Em abril de 2008, o governo venezuelano anunciou a reestatização da siderúrgica TerniumSidor, em cujo consórcio controlador a Usiminas detinha participação de 16,6%. O sócio majoritário da siderúrgica era o grupo Techint, da Argentina, outro integrante do Mercosul surpreendido pela nacionalização. No setor de petróleo e gás, os contratos de exploração e produção foram revistos, elevando a fatia do governo venezuelano. Ainda assim, a Petrobras mantém suas operações no país, bem como a Braskem. Em maio deste ano, Chávez anunciou a estatização de cinco siderúrgicas, das quais três controladas pelo Techint