Título: Bloco, na prática, está paralisado
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Fonte: O Globo, 30/10/2009, Economia, p. 31
Uruguai e Paraguai não se sentem beneficiados
BUENOS AIRES. O Mercosul continua sendo uma peça fundamental da política externa brasileira, mas, em conversas informais, funcionários do governo Lula admitem que o bloco está praticamente paralisado há pelo menos quatro anos. As negociações bilaterais com a União Europeia (UE), por exemplo, consideradas importantíssimas pelos governos de Uruguai e Paraguai, foram interrompidas em 2005 e desde então os países do bloco não conseguem retomar as conversas com os europeus.
Durante a campanha eleitoral uruguaia (que só deverá ser encerrada no final deste mês, quando será realizado o segundo turno), o candidato da governista Frente Ampla, José Mujica, defendeu a permanência de seu país no Mercosul (opção criticada por seu adversário, o ex-presidente Luis Alberto Lacalle), mas deixou claro que para o Uruguai o bloco deve ser uma plataforma a partir da qual sejam alcançados outros acordos, sobretudo com a UE.
¿ Queremos lutar dentro do Mercosul, para abrir novas possibilidades de acordos, com outros países e blocos comerciais ¿ declarou Mujica, favorito para suceder o atual presidente Tabaré Vázquez.
Os uruguaios esperam que as negociações com a UE sejam reatadas ainda este ano, desejo compartilhado pelos paraguaios. Tanto no Uruguai como no Paraguai, predomina uma sensação de que o Mercosul só beneficiou as economias do Brasil e da Argentina e, ao mesmo tempo, impediu os dois países menores de negociarem outros entendimentos bilaterais, fora do bloco. Durante o governo Vázquez, o Uruguai solicitou autorização para iniciar conversas com os EUA, mas o pedido foi vetado por seus parceiros do Cone Sul.
¿ Todos sabemos que o Mercosul está estagnado há um bom tempo, em grande medida pelas sucessivas mudanças de governo na região. Desta vez, quem entra em período pré-eleitoral é o Brasil e isso deve adiar a possibilidade de um relançamento do bloco ¿ admitiu uma fonte do governo brasileiro.
Uma das poucas novidades dos últimos tempos foi o acordo entre os governos do Brasil e da Argentina para criar um sistema de pagamento em moeda local, eliminando o dólar. (Janaína Figueiredo)v