Título: Obama sabe jogar duro?
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Fonte: O Globo, 30/10/2009, O Mundo, p. 32

Ao assistir ao governo Obama lançar sua "nova era de engajamento" nos últimos dez meses, os mais experientes observadores se fizeram duas perguntas: Se o engajamento fracassar, a equipe de Obama reconhecerá que fracassou? E o que fará depois? A primeira pergunta está prestes a ser respondida. O principal alvo da "nova era de engajamento", o Irã, voltou a seu velho tipo de jogo. A proposta conjunta de EUA, França e Rússia ¿ o envio de 75% do seu urânio de baixo enriquecimento para os russos este ano ¿ foi um compromisso. Pode ter teoricamente adiado o programa de construção de uma bomba iraniana por um ano, ganhando assim algum tempo para se chegar a um acordo definitivo com o Irã. Mas não impediu o Irã de continuar a enriquecer urânio. O acordo, promovido pelo chefe da Agência Internacional de Energia Atômica, Mohamed ElBaradei, era mais um teste para as intenções do Irã do que um avanço. O resultado do teste já chegou. Teerã aparentemente não aceitará o acordo, mas proporá um outro plano, concordando com o envio de quantidades pequenas de urânio para a Rússia durante um ano. Mesmo que o Irã cumpra este plano, o lento trânsito de urânio não garante o propósito original, já que o país pode repor o urânio. Teerã está claramente sondando para ver se Obama sabe as regras do jogo duro, ou se pode ser driblado. Se Obama quer chegar a algum lugar na sua disputa com os mulás, precisa mostrar que está decidido, e impor novas sanções imediatamente. E a Rússia, o outro grande alvo do engajamento? O governo diz ter conquistado seu apoio para se juntar às sanções caso o Irã recuse um acordo, e Obama pagou adiantado, cancelando o escudo antimísseis na Europa. O teste começou. A Rússia se uniu a França, EUA e ElBaradei ao concordar com a proposta sobre o urânio iraniano. O Irã rejeita a proposta. Se a estratégia de Obama estiver funcionando, Moscou deve se unir às sanções. Se Moscou achar que a proposta iraniana é satisfatória, ou pedir mais negociação, saberemos que a Rússia está jogando. Obama teria que mostrar que deve ser levado a sério. O engajamento, para Obama, é um fim em si mesmo, não um meio para se chegar a um fim. Preocupa-nos que quando o Irã rejeita uma proposta, Obama simplesmente continue a negociar outra. A Rússia, enquanto isso, continuará a ser considerada uma parceira, seguindo a teoria não testada de que se Obama, um dia, decidir ser duro com o Irã, Moscou se unirá. Teerã está tentando ganhar tempo para reconquistar o controle do país diante da raiva após as eleições fraudadas de junho. Esta é a melhor carta na mão de Obama. É a hora de usá-la, ou de admitir que pôquer não é o seu jogo. ROBERT KAGAN é colunista do "Washington Post"