Título: Irã manda sinais mais ambíguos ao Ocidente
Autor:
Fonte: O Globo, 30/10/2009, O Mundo, p. 32

Ahmadinejad adota tom conciliatório mas jornal pró-governo sugere mudanças à proposta da AIEA sobre envio de urânio ao exterior TEERÃ O Irã enviou, ontem, sua "resposta inicial" à proposta feita pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) da ONU na semana passada, segundo a qual o país exportaria 75% de seu urânio de baixo enriquecimento à Rússia e à França até o fim do ano. Porém, detalhes da contraproposta não foram divulgados, e prevalece a ambiguidade do país quanto à negociação. Em discurso ontem, o presidente Mahmoud Ahmadinejad adotou um tom conciliatório, elogiando o Ocidente por ter passado da "confrontação para a interação" e dizendo-se pronto para cooperar. No entanto, o jornal pró-governo "Javan" reforçou suspeitas de que o Irã sugerirá mudanças ao plano, como o envio do material em parcelas, e não de uma só vez ¿ o que, em tese, permitiria ao país repor rapidamente seu estoque de urânio. O porta-voz do Departamento de Estado americano, Ian Kelly, exigiu ontem uma resposta formal do Irã, e a França também disse esperar uma "resposta clara e positiva" do país. Apesar dos elogios ao Ocidente, Ahmadinejad reiterou que não abrirá mão de seu controverso programa nuclear ¿ numa clara resposta às críticas da oposição iraniana, que o acusa de ter cedido demais nas negociações nucleares. O acordo inicial, apresentado pela AIEA ao Irã, à Rússia, à França e aos EUA, prevê que o país exporte 1,2 tonelada da 1,5 tonelada de seu urânio enriquecido a 3% à Rússia, onde o material seria enriquecido a até pouco menos de 20% (longe dos 90% necessários para produzir uma bomba atômica, o maior temor do Ocidente). Depois, o urânio seria convertido na França em varetas de combustível, que retornariam ao Irã para alimentar um reator usado para fins hospitalares. ¿ O fornecimento de combustível nuclear ao reator de Teerã é uma oportunidade de avaliar a honestidade das potências e da AIEA ¿ disse Ahmadinejad ontem, na cidade de Mashhad. ¿ Apertaremos qualquer mão que nos estendam honestamente. Mas, se alguém for desonesto, a resposta da nação iraniana será semelhante à que demos a Bush e a seus antecessores. Segundo a mídia iraniana, o governo concorda com a estrutura da proposta, mas quer garantias de que seu urânio será de fato devolvido no fim do processo. De acordo com o "Javan", além de enviar o urânio em várias parcelas, o país quer o "intercâmbio simultâneo", ou seja, pretende receber o combustível enriquecido à medida em que despachar o material de baixo enriquecimento. Para especialistas, o país pode propor ainda que ele mesmo faça o enriquecimento do urânio, sob a supervisão da AIEA. O Ocidente deve rejeitar tais contrapropostas, já que a prioridade é reduzir o estoque de urânio iraniano. Agência da ONU espera fechar acordo 'em breve' No Irã, a opinião pública tem criticado o plano da AIEA, e muitos políticos creem que EUA, França e Rússia não são parceiros confiáveis. Além disso, o líder supremo aiatolá Ali Khamenei não aprovaria as conversas entre Irã e EUA. ¿ Os ocidentais insistem nesse engodo ¿ disse Ali Larijani, presidente do Parlamento. Derrotado na eleição presidencial do último 12 de junho, que levou ao segundo mandato de Ahmadinejad, o oposicionista Mir Hossein Moussavi afirmou que a aceitação da atual proposta nuclear "levaria ao desastre". Ao mesmo tempo, sua não aceitação poderia levar a duras sanções do Ocidente. Em Viena, a AIEA informou, em nota, que seu diretor-geral, Mohamed ElBaradei, recebeu uma resposta inicial de autoridades iranianas sobre a proposta e "está envolvido em consultas com o governo do Irã assim como todas as partes relevantes, na esperança de que o acordo (...) possa ser concluído em breve". Inclui Quadro: As instalações iranianas