Título: Queda interrompida
Autor: Flores, Mariana
Fonte: Correio Braziliense, 22/05/2009, Economia, p. 13

Depois de um trimestre em alta, taxa de desemprego, medida pelo IBGE, recua para 8,9% em abril, registrando estabilidade. Mudança na trajetória, no entanto, não indica recuperação no número de vagas

Desempregado havia dois anos, Abelmídio Neto foi contratado em abril para gerenciar uma academia de ginástica em Águas Claras Após três meses em alta, o desemprego interrompeu a trajetória em abril. A taxa divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ficou praticamente estável, passou de 9,0% em março para 8,9% no mês seguinte, mas o resultado surpreendeu os analistas em mercado de trabalho, que apostavam em uma continuidade da expansão do número de desempregados. Apesar de ter sido considerada bastante positiva, a interrupção ainda não é um sinal de que a curva foi invertida. A avaliação é que o cenário econômico, tanto o doméstico quanto o internacional, ainda não está definido o suficiente para indicar o futuro do mercado de trabalho brasileiro. ¿O fato de ter parado de piorar é um bom resultado, mas o mercado de trabalho brasileiro continua na UTI. Infelizmente não é um sinal de que começou a melhorar. Podemos ter melhoras homeopáticas daqui para frente, não vamos ter nenhum grande salto até o fim do ano¿, afirma o professor da Universidade de São Paulo José Pastore, especialista em mercado de trabalho e consultor da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Na opinião de Pastore, até dezembro o índice de desemprego pode chegar a 9,5%. Apesar da redução divulgada ontem pelo IBGE, a taxa de abril é maior que a do mesmo mês do ano passado, quando foi registrada a menor taxa da série histórica para o período, de 8,5% da População Economicamente Ativa (PEA). Nas seis regiões pesquisadas para compor a Pesquisa Mensal de Emprego, 98 mil pessoas foram somadas ao universo de desempregados nos últimos 12 meses. A população desocupada já soma 2,046 milhões. Com uma demanda maior, é mais difícil negociar reajustes. A renda média do trabalhador caiu quase 1% de março para abril.

Com a expectativa de recuperação da economia, voltaram os investimentos e, com eles, a criação de empregos. Há dois anos, o militar aposentado Abelmídio José de Oliveira Neto, de 56 anos, procurava uma vaga. Em abril foi contratado para gerenciar uma academia de ginástica que será inaugurada amanhã em Águas Claras. Formado em engenharia civil, sua experiência maior é mesmo na área administrativa, mas a busca pelo emprego não estava fácil, conta. ¿Passei os últimos dois anos distribuindo currículos¿, afirma.

Rendimento cai A renda média do trabalhador das seis regiões ainda é a maior para um mês de abril desde o início da série histórica, em 2002, mas é menor que a registrada em março deste ano. O rendimento caiu de R$ 1.328 para R$ 1.318, mas ainda é superior ao de abril do ano passado ¿ R$ 1.277. ¿É a lei da oferta e da procura de trabalho, com a demanda em alta, fica mais difícil conseguir reajustes reais¿, afirma o economista Roberto Montezano, professor da unidade do Rio de Janeiro do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec).

DOIS PERFIS DIFERENTES Dos 20,913 milhões de trabalhadores ocupados nas seis regiões metropolitanas, 45% têm carteira de trabalho assinada. De acordo com os números divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Pesquisa Mensal de Emprego não identificou alteração nessa participação em relação a março, nem nos últimos 12 meses. O volume dos que estão trabalhando no setor privado e não são formalizados também não se alterou: eles representam 12,5% da população ocupada. (MF)