Título: Falta de continuidade na educação é desafio
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Fonte: O Globo, 01/11/2009, O País, p. 8

Representante no Brasil da Unesco critica número de cargos de confiança no MEC e mudanças a cada troca de mandato

DEFOURNY: "O MEC não tem que se reinventar a cada mandato"

O representante no Brasil da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Vincent Defourny, diz que falta continuidade às políticas educacionais no país. Embora elogie o Ministério da Educação, considera que há excesso de cargos de confiança, sujeitos a troca a cada novo governo. "O MEC, o governo, uma administração desse tipo não tem que se reinventar a cada mandato", diz.

Defourny, que há três anos e meio dirige o escritório brasileiro, prefere não comentar a decisão do Itamaraty de apoiar a candidatura derrotada do egípcio Farouk Hosni à direção-geral da Unesco. O governo Lula abriu mão de lançar o brasileiro Márcio Barbosa, que tinha chances na disputa. Para Defourny, porém, o país não sofrerá prejuízo. Lembra que a búlgara Irina Bokova, eleita diretora-geral, fará sua viagem de estreia justamente para o Brasil - a Belém, em dezembro, para uma conferência sobre educação de adultos.

Demétrio Weber

O Brasil universalizou o acesso ao ensino fundamental, mas a qualidade deixa a desejar. Por quê?

VINCENT DEFOURNY: São múltiplas razões. Fraquezas institucionais e falta de preparação dos professores são elementos-chave.

Desde o governo Fernando Henrique, ministros da Educação são lembrados para disputar a Presidência da República. É assim em outros países?

DEFOURNY: A educação representa fatia significativa do orçamento de qualquer país. O que chama a atenção no Brasil não é o ministro. É o número de cargos de confiança. Em muitos países europeus, quando se troca o ministro, uma máquina pública forte, com diretores, segue funcionando. O equivalente de secretários no MEC ou diretores são cargos permanentes e não mudam de um governo para outro. O MEC, o governo, uma administração desse tipo não tem que se reinventar a cada mandato. A falta de continuidade é talvez um dos grandes desafios no Brasil.