Título: Estão todos juntos (na política) hoje
Autor: Araripe, Ana Paula
Fonte: O Globo, 01/11/2009, O País, p. 13

PC FARIAS: "Tínhamos relacionamento sim (com PC). Nunca viajamos juntos, mas fomos ao Sambódromo. Ele dançou tango lá. Ia à Casa da Dinda, tomava café da manhã. Mas nunca soube que era ele quem pagava as contas. Tanto que tomei susto quando ele disse: "A madame está gastando muito". Achava até que o Fernando é quem depositava (o dinheiro), que a secretária dele, Ana Acioli, era quem colocava na minha conta. Agora, de onde vinha, não ia perguntar, nunca perguntei."

BRIGA DE IRMÃOS: "Existia disputa, econômica também, entre os dois (Fernando e Pedro Collor). Achava que a briga deles era só sobre o jornal, porque PC queria lançar "A Tribuna", e o Pedro não queria. Eu dizia que o Pedro estava doido de dizer que o jornal era do Fernando, mas, depois, descobri que era dele. Eles nunca se deram bem."

PIOR DO QUE IMPEACHMENT: "No impeachment, nós perdemos um cargo. Mas, agora, foi a minha vida. Estava debilitada, frágil, tinha perdido a minha mãe (em maio de 2004). Imagina você chegar em casa e não encontrar mais o seu marido."

"CONFISCO" DE JOIAS: "Quero aquilo que é meu de direito. Não é só a questão das joias. Elas são um detalhe, porque são minhas, são presentes que ganhei e estavam na casa de São Paulo. Quando ele mandou minhas roupas, eu disse que minha vida com ele se resumiu a 101 caixas, porque ele pegou as minhas roupas de Brasília, de São Paulo e de Miami e colocou em 101 caixas e mandou entregar aqui na minha casa de Maceió. E não mandou as joias, confiscou. Tenho fotografias de tudo. Tá tudo isso na Justiça e espero que, realmente, ele me devolva."

LOUIS VUITTON: "Quando a gente viajava, ele comprava malas Louis Vuitton e colocava as iniciais, as minhas letras RCM, Rosane Collor de Mello, e as dele também, FCM. Um belo dia, acordei, e a minha empregada disse: "Olha, o dr. Fernando mandou o motorista dele vir aqui e levou todas as malas". Eu falei: "Que malas?". "Levou as malas Louis Vuitton que tinham as iniciais". As malas comuns, deixou todas, mas as com as letras ele levou absolutamente todas. Achei tão miúdo, tão pequeno, uma pobreza de espírito tão grande."

NÃO VOTOU EM COLLOR: "Jamais poderia votar. Até o momento em que estávamos casados, aí, claro, eu sigo a Bíblia. Jesus disse que, quando a gente casa, a gente é um só espírito, uma só carne. Mas, como houve a separação, houve traição, ele construiu sua vida com uma outra pessoa, não posso votar em uma pessoa que não admiro."

CANDIDATURA: "Olha, as pessoas já me lançaram por diversas vezes, colocaram outdoor. Agora, me filiei ao Partido Verde. Meu ex-namorado Alder Flores (advogado) me convidou. Vamos ver. Estou deixando uma porta aberta, posso me candidatar ou não."

BENS ACUMULADOS: "Muitas coisas ele (Collor) conseguiu porque era empresário. Muitas coisas conseguimos também com o trabalho dele. Ele foi deputado federal, governador, presidente da República. Não acredito que os bens que conseguiu foram fruto da corrupção. Até porque ele foi inocentado. O Supremo Tribunal Federal o inocentou. Não estou aqui para julgá-lo. A Justiça que julgue se ele é inocente ou culpado. Ele foi inocentado, como eu também."

ELEIÇÃO DE 89: "No começo, nem mesmo nós acreditávamos. Mas, depois, quando a gente começou a percorrer o Brasil e a ver a campanha crescendo... No segundo turno, a gente começou a ter certeza que seria ele, porque a pesquisa mostrou que o Fernando realmente tinha se saído melhor do que o Lula no debate na TV."

A SAÍDA DA PRESIDÊNCIA: "O Fernando era muito jovem, tinha 40 anos. Foi eleito pelo PRN, um partido pequeno, e não se preocupou em ter um partido forte, que desse sustentação. Ele não merecia o impeachment. Seria a última pessoa que poderia estar aqui defendendo o Fernando, mas sou justa. Não acho que ele foi um bom político, mas acho que teve medidas boas."

RENAN E COLLOR: "O Renan (Calheiros) apoiou o Fernando para a Presidência. Depois romperam, e agora estão juntos. Aliás, estão todos juntos. Na política, não me surpreendo com mais nada, idealismo não existe."

ESCÂNDALOS NA LBA: "Acho que cometi um erro quando assumi a LBA. Poderia ter colocado uma pessoa que fizesse tudo o que eu queria, só que eu não assinaria nada. Tive problemas, mas, graças a Deus, fui inocentada. Até meu salário como presidente eu doava para entidades carentes. E a prova é que não tenho nada em meu nome."

TRABALHOS ESPIRITUAIS: "Havia rituais lá na Casa da Dinda. Era para abrir caminho, aquelas coisas. As pessoas mandavam coisas ruins, e ele mandava de volta. Ele acreditava nisso. Tinha animais (sacrifício de animais)."