Título: Investimentos no Brasil chegaram a US$76 bi no 1º semestre deste ano
Autor: Oliveira, Eliane; Paul, Gustavo
Fonte: O Globo, 01/11/2009, Economia, p. 34

GEORGE TOMIC, da Stenville, está investindo em sustentabilidade

BRASÍLIA. No primeiro semestre deste ano, quando as economias ainda sofriam de forma voraz os efeitos da crise financeira global, o Brasil recebeu anúncios de investimentos - de empresas nacionais e estrangeiras - de US$75,88 bilhões, segundo dados preliminares do Ministério do Desenvolvimento (MDIC). Esses números, apesar de distantes dos US$202 bilhões anunciados no primeiro semestre de 2008, antes da turbulência nos mercados, já ultrapassam os US$67 bilhões previstos em 2007. Para o governo, trata-se de um termômetro poderoso da percepção dos empresários sobre o Brasil no período pós-crise.

Do total anunciado, 58,3% dos recursos são voltados à indústria da transformação. Na esteira das descobertas do pré-sal, os combustíveis (refino) se destacam, com US$16,037 bilhões. Mas os grandes projetos de hidrelétricas justificam as projeções para produção e distribuição de energia, com US$15,9 bilhões. Também se destacam metalurgia, com US$8,9 bilhões; alimentos e bebidas, com US$1,87 bilhão; e plásticos, com US$1,9 bilhão.

O coordenador-geral da Rede Nacional de Informações sobre o Investimento (Renai) do MDIC, Eduardo Celino, avalia que esses recursos mostram o grande interesse pelo país, que conquistou estabilidade macroeconômica e tem pela frente o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a exploração de petróleo no pré-sal, a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016.

Indústria transfere produção de outros países para cá

As projeções, que serão consolidadas em janeiro, levam em conta, por exemplo, anúncios públicos e dados estaduais, do MDIC e da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Suframa). Os técnicos também constataram um forte movimento de transferência de linhas de produção para o Brasil este ano. O levantamento aponta autopeças (35%), alimentos (10%), metalurgia (6%), móveis (7%), químico (7%), têxtil (7%) e asfalto (4%), entre outros. Os países de origem são França, Estados Unidos, Alemanha, Suécia, Itália e Japão.

Alguns desses movimentos haviam sido iniciados há alguns anos, mas foram suspensos, sendo retomados somente com a mitigação dos efeitos da crise. É o caso da Coteminas, empresa que pertence à família do vice-presidente, José de Alencar.

Segundo o vice-presidente industrial do grupo, Pedro Passos, a transferência de linhas de produção começou em 2007, com a vinda de unidades dos EUA para o Brasil. Ele ressalta que, além de a diretoria da Coteminas, que adquiriu a americana Springs, ser brasileira, os salários dos americanos são mais altos que os dos brasileiros.

- Voltamos a produzir a plena carga para atender os EUA - diz Passos.

Setores vão de laboratórios a alimentos, têxteis e veículos

Antonio Panzionoto, diretor industrial da Bio Springer, que fabrica extrato proteico (usado na confecção de massas), disse que ajudou na decisão o fato de o setor de alimentos não ter sido muito atingido pela crise. A empresa aumentou 30% da capacidade de sua fábrica.

Em investimentos novos, destaca-se a multinacional francesa Sanofi-Aventis, que anunciou a instalação, no Distrito Federal, de um laboratório de medicamentos genéricos, especializado em anticoncepcionais, estimada em US$45 milhões.

- A confiança no Brasil é crescente e queremos fazer do país uma plataforma de produção e exportação de medicamentos - diz o diretor-geral da empresa no Brasil, Heraldo Marchezini.

Firmas de menor porte também têm projetos. Proprietário da Stenville, de tecidos e confecções, George Tomic optou por investir em sustentabilidade a partir da inovação. A empresa reduziu o consumo de água na fabricação de camisetas de 16 para oito litros e trabalha com a Universidade de São Paulo em novos amaciantes.

- Buscamos uma relação inteligente entre a indústria e o meio ambiente - diz Tomic.

A Volkswagen também comunicou ao ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, a intenção de investir no país. Procurada, confirmou o otimismo, mas não citou valores. "O Grupo Volkswagen considera o Brasil um mercado com oportunidade de crescimento sustentável nos próximos anos, no qual a Volkswagen do Brasil poderá atingir antecipadamente seus objetivos de vendas", afirma em nota.

Na área de refino, a grande responsável pelos novos investimentos é a Petrobras. Segundo a empresa, isso se deve à crescente demanda por derivados de petróleo. A ideia, segundo a estatal, é processar cada vez mais matérias-primas nacionais.

Fernando Pimentel, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecções (Abit), diz que o setor vem investindo mais de US$1 bilhão ao ano em máquinas, equipamentos, instalações e tecnologia, valor que será mantido.